sábado, 31 de dezembro de 2011

Acadêmicos do Ano Novo

Praia de Copacabana, festa em casa, noitada em boate. São muitas as opções para passar a virada do ano. Mas como os acadêmicos vão comemorar a chegada de 2012?

Para o último dia do ano, convidei alguns acadêmicos amigos para descreverem como vão passar a virada. Do mais, basta usar imaginação e desejar boas vibrações para este, que promete ser o ano do fim do mundo.

Renan Barreto – Jornalista, blogueiro e escritor
Acho que a melhor forma de passar o fim de ano é com quem a gente ama. No meu caso será com a minha namorada. Bem, namorada até o dia 31 deste ano, pois na virada, ela já será minha noiva. Dia primeiro de janeiro, além de tudo, é aniversário dela. Então, se é para falar sobre inícios de ciclos, de projetos, de novas etapas da vida, então posso dizer que em 2012 minha vida será diferente de certa forma. Acho que o ideal não é passar somente no lugar, afinal de contas o mais importante é com quem passaremos o dia 31. Seja na praia ou no campo, ou quem sabe, dentro de casa. Desde que seja com amor, podemos estourar o champanhe em qualquer lugar. A minha dica é essa. Passe com quem ama.
Música da virada: "Do you Remember" – Jack Johnson



Pedro Del Picchia – Psicólogo, Mestrando em Comunicação e Semiótica na PUC-SP
Bom, meu Reveillon vou passar em uma casa de campo de uma amiga com vários amigos mestrandos também! Galera que eu conheço desde o tempo de colégio, cada um foi para um lado diferente, mas sempre se encontra. Encher a lata, falar merda e lembrar que, o tempo passa, mas algumas coisas, ainda bem, continuam as mesmas.
Música da virada: “Folhas Secas” – Nelson Cavaquinho.



Emília Parentoni – Doutora em Engenharia de Transportes
Dizem que a festa da virada do Ano aqui [na Alemanha, onde está fazendo pós-doutorado] é lindíssima. Apesar do frio, as ruas ficam lotadas e a queima de fogos no ponto turístico mais importante de Berlin, Portao de Brandemburgo (Brandenburger Tor) é imperdível. Portanto, estarei la. Estou aqui trabalhando como professora cientista internacional convidada pela TU Berlin. Aqui eles adoram o Brasil e em todas as festividades toca a musica "Garota de Ipanema" o que me emociona muito... Então fica essa dica para a música que eu gostaria de ouvir para me sentir mais perto da minha terra.
Música da virada: “Garota de Ipanema” – Vinícius de Moraes



Danilo Motta – Jornalista, escritor, mestre em Estudos de Literatura
Minha virada será em duas etapas. Primeiro um jantar na casa de uma professora da minha graduação que acabou se tornando uma grande amiga pós-formatura. Depois, passarei mais uma vez na Praia de Copacabana – sim, bem clichê, mas é o que tem para hoje. O objetivo é voltar para casa bem cedo porque, como todo bom repórter, estou de plantão no dia 1º de janeiro...
Música da virada: “Party Rock Anthem” – LMFAO ft. Lauren Bennett & GoonRock

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Uma tarde na biblioteca

É muito fácil – e confortável – falar mal do poder público e dos políticos (independente de quais políticos sejam esses). Elogiar iniciativas governamentais é o que exige um olhar mais apurado. E, sim, é isso o que eu vou fazer agora.

Um dia de folga, nesse recesso de fim de ano, dei uma passada na Biblioteca Pública de Niterói (BPN) para ver como ficou a reforma. Durante a minha graduação e mestrado, entrei ali para pesquisar inúmeras vezes e, depois de meses fechada para obras, ainda não tinha conferido o resultado final. E me surpreendi.

O prédio ficou lindo por dentro e a organização do acervo permite mais fácil acesso aos livros pelos frequentadores. A biblioteca está com wi-fi em boa parte de suas instalações e – diferente de como funcionava antes da reforma – você não paga mais para fazer cadastro e para pegar empréstimo de livros. Há, ainda, funcionários em todos os setores para orientar as pesquisas.

Tudo isso tem em muitas outras bibliotecas – mas só quem conhecia a BPN antiga vai entender o choque que eu levei. Mas há uma diferença brutal em relação à versão antiga da biblioteca que, para mim, foi o principal diferencial: o novo horário de funcionamento.

A BPN fica aberta das 10h às 20h de terça a sexta-feira. Eu seja: dá pra sair do trabalho e dar um pulo lá para pegar/devolver um livro. Mas o melhor ainda está por vir: a BPN fica aberta sábado e domingo até às 16h. Isso é perfeito para pesquisadores que, como eu, não vivem exclusivamente de pesquisa e trabalham a semana toda em horário comercial.

Mas, como nada é só positivo, todos os cadastros de frequentadores de antes da reforma foram perdidos. Então, se você tinha a carteirinha da biblioteca, você precisa fazer de novo. Mas nem tente fazer isso tão cedo: o sistema está fora do ar e sem previsão de reparo.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Liberdade de expressão? Aqui?!?

Quanto mais genial é um pensador, mais atemporal é sua obra. E tive um bom exemplo disso hoje, quando estava lendo um livro do Erich Fromm - O Medo à Liberdade.

Fromm é um autor que eu gosto muito, mesmo não conhecendo (ainda) toda sua obra. Neste livro ele mostra o quanto o homem tem medo da liberdade pelo fato de esta palavra significar, não raro, isolamento, individualidade e, consequentemente, angústia. O autor joga por terra a noção de liberdade que nós em geral temos e propõe algumas reflexões sobre o tema. O trecho que me deixou, digamos, incomodado foi o seguinte:

Achamos que a liberdade de expressão é o último passo na marcha para a vitória da liberdade. Esquecemos que, conquanto a liberdade de expressão constitua uma vitória importante na batalha contra as restrições antigas, o homem moderno se encontra em uma situação em que muito do que “ele” pensa e diz são as coisas que todos os demais pensam e dizem; que ele não adquiriu a capacidade de pensar originalmente – isto é, por si mesmo –, a única que pode dar conteúdo à sua alegação de que ninguém pode interferir na manifestação de suas idéias.

Não há nada mais atual do que esse texto, escrito em 1941, no meio da Segunda Guerra Mundial. Hoje vejo nas conversas informais e, principalmente, nas redes sociais uma defesa arraigada da liberdade de expressão. Entretanto, podem me chamar de ingênuo, mas não consigo notar cerceamento algum – pelo contrário, todo mundo tem o direito de dizer o que quiser, desde que se responsabilize por isso. O problema maior é que, na mão desses defensores, liberdade de expressão tornou-se liberdade de repetir o que já foi dito. E nisso não há liberdade alguma.

Retomando o trecho de Fromm, enquanto essa moçada não começar a pensar por conta própria, livre de influências manipulações externas, haverá somente uma falsa sensação de liberdade. Mas ela é prazerosa. Então, vamos defendê-la...

Por hora, fico com as palavras do Gabriel, o Pensador: “Liberdade de expressão? Aqui?! Ah... Não existe!”

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Resultado da promoção!

Galera, foram muitos RTs, várias pessoas participando da promoção – o que me deixou bem feliz, não só por que se tratava do meu livro, mas porque mostra que os tuiteiros também estão se interessando por crítica literária. Mas só um poderia ganhar.

E o ganhador foi...

@senhor_h!

Parabéns, meu nobre! Mas se você não me enviar seu endereço até às 12h desta quinta-feira (22), serei obrigado a fazer outro sorteio! Então não dê bobeira!

Quem está achando que teve marmelada, pode ver o resultado do sorteio aqui!

Quem não ganhou o livro, pode comprar aqui!

Obrigado a todos pela participação!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

É possível perder um talento?

De todos os livros do Philip Roth que eu li, creio que A Humilhação representa melhor o universo deste tão premiado escritor. Nele, Roth coloca em questão a noção de talento ao apresentar para o público um ator que perdeu toda a sua capacidade de encenar.

Como de costume na obra do Roth, o protagonista é um homem idoso. O livro tem um texto bastante forte, com palavras e expressões contundentes, cheio de referências à psicanálise, a outras obras da literatura e, mais particularmente neste romance, ao teatro.

O protagonista, Simon Axler, é um dos principais atores de teatro de sua geração. De um dia para o outro, a capacidade de atuar desaparece sem deixar vestígios. “Em vez da certeza de que teria um desempenho maravilhoso, sabia que ia fracassar.” Daí em diante, sua vida vai em uma decrescente constante. Tem relacionamentos conturbados com mulheres, se envolve com uma ex-lésbica e imerge em uma arriscada aventura sexual – “E se ele acabasse sendo apenas um rápido parênteses de intrusão masculina numa vida lésbica?”. O desfecho da trama é eletrizante, súbito e surpreendente.

Eu, que não sou exatamente um apaixonado por teatro (ok, tem meses anos que eu não vejo uma peça, mas também não dá pra fazer tudo, né?), já achei “A Humilhação” um livro muito bom. Talvez este romance dialogue ainda melhor com quem entende de artes cênicas mais a fundo. Shakespeare é citado nos diálogos, assim como a mitologia grega. É um texto rápido – o livro tem só 102 páginas – com um forte potencial teórico.

Como não poderia deixar de ser, encerro esse post com uma passagem que resume bem o espírito do livro:

Quando você representa o papel de uma pessoa que está entrando em parafuso, a coisa tem organização e ordem; quando você observa a si próprio entrando em parafuso, desempenhando o papel da sua própria queda, aí a história é outra, uma história de terror e medo.
Axler não conseguia se convencer de que estava louco, tal como não havia conseguido convencer ninguém, nem mesmo a si próprio, de que era Próspero ou Macbeth. Era um louco artificial também. O único papel que conseguia desempenhar era o de alguém que desempenha um papel.


P.s.: Só como curiosidade, A Humilhação é (pasme) o trigésimo livro do Philip Roth.

P.s. 2: As capas dos livros do Philip Roth são sempre magníficas. Vale muito a pena comprar o livro para ter essa beleza em sua estante...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Retrospectiva literária

Fim de ano é tempo de retrospectivas. Então, para entrar no clima, resolvi publicar a listinha dos livros que eu li desde o início do ano. Tudo bem que 2011 não foi um ano que eu pude me dedicar à leitura como eu gostaria – a conclusão do Mestrado me deixou uns bons meses me dedicando só à entrega da minha dissertação. Então, que 2012 seja um ano mais tranquilo para que a próxima lista seja mais extensa!

Segue a listagem em ordem cronológica:

1 – A fúria do corpo (João Gilberto Noll)
2 – As aventuras de Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll)
3 – A sociedade individualizada (Sigmunt Bauman)
4 – Através do espelho e o que Alice encontrou por lá (Lewis Carroll)
5 – Drácula (Bram Stoker)
6 – A humilhação (Philip Roth)
7 – O enterro do anão  (Chico Anísio)
8 – Rei Édipo (Sófocles)
9 – A linguagem proibida (Dino Preti)
10 – Este lado do paraíso (F. Scott Fitzgerald)
11 – A cortina de ouro (Cristovam Buarque)
12 – Leite derramado (Chico Buarque)
13 – Louca por você (Fernanda Belém)
14 – O medo à liberdade (Erich Fromm – em andamento)

Então já sabem, caros leitores: se for me dar um livro de presente de Natal, que não seja nenhum desses, porque esses eu já li!

Brincadeiras à parte, eu gostei de todas as minhas leituras. Fica esse post como sugestão de bons livros para 2012!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Promoção!

Promoção quentinha pra esse fim de ano! Vou sortear um exemplar do meu livro – Literatura, Política e Linguagem – entre os leitores do blog.

Não conhece meu livro ainda? Aqui vai a sinopse:

O que diferencia a linguagem cotidiana da linguagem usada na política? Como literatura e política dialogam entre si no contexto contemporâneo? Pode a literatura representar os valores e conceitos de uma determinada sociedade sem cair nos tão combatidos estereótipos? Em seu livro de estreia, o autor procura levantar um debate sobre representações políticas e culturais que podem ser observadas sob diferentes aspectos na sociedade contemporânea.

Gostou? Então participe! Você precisa:

1 - Morar no Brasil

2 – Publicar essa frase no Twitter: Quero ganhar o livro “Literatura, Política e Linguagem”, do @diretodaredacao http://kingo.to/VXR

3 - Precisa seguir no Twitter: @diretodaredacao

4 - Após o resultado do sorteio, o vencedor tem até 24h para responder a DM com seu endereço para que eu possa enviar o livro. Caso não responda, um novo sorteio será realizado.

A promoção termina nesta quarta-feira (21). Boa sorte!

P.s.: Quem quiser comprar o livro, só entrar aqui.

O primeiro de muitos?

É muito difícil fazer uma crítica do trabalho de alguém que você gosta muito. Primeiro porque você fica emocionalmente comprometido por gostar da pessoa e isso pode tornar sua visão nublada. Segundo pelo medo de que a crítica – no seu sentido mais puro – seja entendida como um ataque pessoal, ou algo do tipo. Este foi o meu desafio ao escrever sobre o livro “Louca por você”, da Fernanda Belém.

A Fernanda é uma grande amiga minha e isso eu já falei aqui no blog. O livro dela tem uma linguagem bastante jovial e fala sobre a peleja de uma jovem – Renata – para ter o ex-namorado – Vítor - de volta. O problema é que ele já tem outra namorada e isso complica a vida dos dois. No romance, a autora aborda temas como virgindade, traição, fidelidade, paixão e amizade sem pudores ou falsos moralismos. E com a delicadeza de quem tem o dom da palavra.

A narrativa é feita em primeira pessoa sendo que a Renata e o Vítor se revezam como narradores. Esse é um ponto bastante positivo que merecia ter sido mais explorado.

São poucas as passagens em que Vitor assume a forma de narrador e isso é muito ruim. A autora fica no meio termo entre criar uma linha narrativa diferente – com dois narradores – e manter um padrão tradicional – com apenas um narrador. A criação de novidades estéticas em uma obra deve ser feita sem indecisão por parte do autor. Em outras palavras: se vai fugir à tradição, que faça com força.

Novamente, a autora mostra um pouco de hesitação ao incluir os e-mails trocados pelos personagens no texto. No capítulo 10 isso fica claro. Ela introduz o capítulo com quatro paragrafinhos e coloca a íntegra de um e-mail enviado por Renata ao Vítor. Depois, mais quatro paragrafinhos e a resposta do Vítor. No fim das contas, essa inserção da narradora entre um e-mail e outro é desnecessária. O leitor é capaz de entender que se trata de uma troca de e-mails entre os personagens e o contexto em que ele se dá. A autora perde a oportunidade de quebrar a sequência narrativa que vinha desenvolvendo e surpreender o leitor com isso.

No todo, o resultado é bastante positivo. O texto tem um ritmo bom e prende a atenção do leitor. É lógico que o leitor deve ter em mente que está diante de um livro voltado para o público mais jovem. Mas isso não desvaloriza em nada o livro. Muito pelo contrário: escrever para jovens é algo extremamente louvável. Que a Fernanda afine seu estilo de escrita e seja mais ousada em seus próximos livros. Pois este, obviamente, será só o primeiro de muitos. Assim esperamos.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Falta de vergonha na cara

Enquanto alguns universitários fazem trabalhos extremamente inteligentes – como os autores do vídeo do Super Mário, por exemplo – e divulgam na Internet, outros fazem questão de mostrar seu total apego à idiotice. No vídeo abaixo, que já tem quase meio milhão de acessos no YouTube desde que foi postado (em maio de 2010), estudantes do Cefet-MG mostram o quão bons são na arte de... (pasme) colar.

Sem falso moralismo, a cola é um recurso uma artimanha usada por muitos alunos. Apesar de reprovável, é até certo ponto justificável – o camarada trabalha de dia e não teve tempo de estudar; não se interessa por aquela disciplina e preferiu se dedicar a outra, e por aí vai. Mas daí a se orgulhar de colar em uma prova a ponto de filmar tudo e colocar no YouTube já é demais!

Só gostaria de saber qual a posição que essas figuras ocupam hoje no mercado...

domingo, 11 de dezembro de 2011

Impressões acadêmicas sobre São Paulo

1. A Praça General Osório do Rio é bem mais bonita que a de São Paulo.
2. O Metrô de São Paulo é bem mais inteligente que o do Rio.
3. Não, eu não vou pagar R$15 numa dose de rum (desculpa, sou pão-duro prefiro lugares mais baratos).
4. “Véi, de boa” = “Brother, na moral”
5. Ao contrário do que muitos dizem, o atendimento em bares/boates/restaurantes em São Paulo não é tão melhor do que o praticado no Rio não...
6. As boates de São Paulo são um erro (desculpa, sou bairrista exigente)
7. Os museus de São Paulo são simplesmente sensacionais – em especial o da Língua Portuguesa (se bem que a exposição do Sigmar Polke no Masp está igualmente imperdível).
8. Ficar preso num engarrafamento é quase uma atividade turística.
9. Pegar uma baita de uma chuva no meio da Av. Paulista não e uma atividade turística muito agradável (sério, não recomendo).
10. Viajar é bom, mas voltar para casa é bem melhor igualmente bom (tá, sou bairrista, e daí?).

Acadêmicos do Super Mário

Eu costumo criticar seriamente esse pessoal que não leva a vida acadêmica a sério e faz trabalhos na base da sacanagem – vide esse post. Por outro lado, também faço questão de elogiar publicamente o que vem sendo feito na universidade e que vale a pena parar por uns instantes para observar.

É o caso deste vídeo, produzido por alunos da faculdade de cinema da Universidade Federal de Pernambuco. Nele é feita uma análise da trilha sonora do Super Mário World. Além de ser muito bem feito, emociona os admiradores deste game. Parabéns aos envolvidos!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Um murro na boca do estômago

Fiquei um tempo sem postar nada por aqui – sabe como é, né?, a correria do dia a dia, a vontade de relaxar nos fins de semana, a dedicação ao meu próximo livro (isso mesmo, estou escrevendo mais um!), tudo isso somado acabou me afastando um pouco do blog. Mas ontem surgiu algo que me fez separar um tempinho para sentar na frente do computador e escrever.

Estava eu num bar com um coleguinha falando amenidades. Fechamento de jornal, cinema, furos, TV, literatura e... Espera aí! Você não conhece João Gilberto Noll?!

Não, ele não conhecia João Gilberto Noll. Como muita gente infelizmente não conhece. Como eu mesmo não conhecia até meados de 2009.

Entrei em contato com a obra do Noll no Mestrado. Eu fazia uma disciplina sobre alegorias, melancolia e abjeção. No final do semestre eu teria que fazer uma monografia sobre algum romance que pudesse aplicar um desses conceitos. Ainda meio perdido, pedi ajuda a um professor amigo meu e ele me sugeriu pegar algum romance do Noll. Fiquei com medo de escolher um autor cuja obra eu ainda não conhecia para analisar um livro dele isoladamente. Fiz meu trabalho final sobre o Os Deuses Subterrâneos, do Cristovam Buarque, que acabou virando um capítulo do meu livro. E acabei adiando a minha primeira vez com o Noll.

No semestre seguinte eu não tive escapatória. Fazendo uma disciplina chamada Ficções do Desassossego não tive como adiar mais meu encontro com o Noll: a professora pediu logo nas primeiras semanas que lêssemos um livro dele para a semana seguinte. Daí conheci Lorde.

O livro já é meio chocante pela própria capa. Não se sabe se é um ombro masculino ou um homem de quatro. O texto é bastante desarrumado: há uma pontuação própria, um fluxo de pensamento único que segue da primeira à última página. Lorde conta a história de um escritor latino-americano perdido em Londres. A dúvida permeia toda a narrativa. O trajeto é o fim em si. Um personagem errante que perturba o leitor com frases e imagens fortes a todo o momento. Gostei.

Meses depois, ganhei do meu irmão outro livro do Noll que me fez ficar apaixonado por este escritor que eu infelizmente conheço pouco até hoje. Trata-se de A fúria do corpo.

O livro é de 1981 e mostra toda a coragem e ousadia de um escritor que não teve medo de, naquela época, mostrar todo o potencial da imundice humana. Caralhos, bocetas, lixo, drogas, porra, merda, putas, bixas. Tudo isso envolto na atmosfera sombria de uma Copacabana que deixava de ser a princesinha para se tornar a puta.

Um personagem sem nome (“o meu nome não. Vivo nas ruas ode um tempo onde dar o nome é fornecer suspeita”: começa assim mesmo o romance, sem letra maiúscula na inicial) e uma mulher que atende pela alcunha de Afrodite. Ele: sem teto, sem comida, sem rumo. Ela: garota de programa. Os dois: apaixonados.


 
Como é comum na obra do Noll, o texto é todo não-linear, com uma pontuação peculiar, parágrafos que se estendem por páginas e páginas, nada de muita novidade em relação ao anterior. O que chama a atenção é a violência com que as palavras atingem o leitor. Parece que a ferocidade dos personagens atinge a todos indiscriminadamente. São frases fortes, não raro com um cunho político bastante contundente. “ Sabe que nós dois não comemos há dois dias e meio e que assim mesmo há um Governo sobre nossas cabeças?”, diz o personagem-narrador para Afrodite em um determinado momento. “Por todos os cantos das ruas homens e mulheres mijam sem se preocupar com esconder cacetas e xotas. Enfim, é Carnaval. O Rio mija o que a Brahma supre enquanto vem aí a banda da Miguel Lemos”, descreve, em outro contexto.

Há quem possa perguntar porque ler um livro tão contundente com tamanha agressividade. Respondo: todo mundo precisa de um murro no estômago vez ou outra para se sentir humano. E encerro com mais uma passagem deste romance:

“E se morto reconheço a exatidão de tudo, não é preciso pranto sobre a desintegração da carne. Sou morto sim. Mas vivo ainda, como a fruta que se transforma num viveiro de bichinhos e vai expelindo aí o derradeiro furor da vida na sua carne mortuária.”