quinta-feira, 15 de março de 2012

Entrevista acadêmica - Túlio Mota

Conheci Túlio em 2004. Eu havia acabado de entrar na faculdade de Jornalismo e tinha aquela coisa toda do movimento estudantil – passeatas, assembleias, protestos aqui, protestos acolá... No fim de 2006, Túlio me convidou a dar aulas de reforço no Pré-Vestibular Popular da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense (UFF), para preparar os alunos para as provas de Português e Redação da segunda fase do vestibular. Gostei da experiência e, principalmente, da seriedade dos professores do curso – quase todos voluntários. Em 2007, fui monitor dessas mesmas disciplinas durante todo o ano letivo. Mais tarde minhas atividades profissionais me afastaram das salas de aula, mas a admiração ficou. Hoje, trago uma conversa com esse grande amigo, que coordenou, durante alguns anos, as atividades no Pré-Vestibular.

Túlio em sala de aula / Foto: Acervo pessoal
Você coordenou um pré-vestibular para jovens de baixa renda. Como funcionava?
Ingressei no pré Popular da UFF em 2003 quando ainda era estudante de Engenharia de Telecomunicações. Fui professor do Curso de 2003 até 2004 e convidado para ser coordenador em janeiro de 2005, permanecendo no cargo até janeiro de 2008. No inicio, o curso passou por grandes dificuldades. Não tínhamos sala fixa, tínhamos dificuldades em conseguir professores de todas as disciplinas... Com o passar do tempo nos organizamos e melhoramos. Conseguimos uma sala fixa e montar um grupo de professores voluntários, mas muito motivados. Os resultados começaram a aparecer: o curso passou a ser conhecido e, em 2005, o MEC nos avaliou como o melhor Curso Popular do Brasil. Nossa gestão durou 3 anos e proporcionou grandes conquistas aos alunos. Dentre as conquistas: o número de horas de aulas por semana triplicou; o número de professores duplicou; os alunos do curso tiveram direito a alimentação no bandejão da UFF e o lanche custava R$ 1; isenção de taxa do vestibular coletiva, dentre outras. Este conjunto de medidas tornou o Pré Popular da UFF uma potência da educação popular e hoje uma referencia em matéria de ensino de qualidade em Niterói.

Acredita que este modelo pode ser expandidos e implementados em outros pontos da cidade?
Claro! A procura por um curso pré-vestibular de qualidade é enorme e os cursos populares existentes não conseguem atender a todos que precisam. O poder público poderia abraçar esta causa. Niterói pode aproveitar a presença da UFF na cidade e criar uma rede de pré-vestibulares populares de qualidade. Eu proponho que seja criado o Niterói Vest, para garantir aos jovens oriundos da rede pública de ensino um cursinho gratuito e de qualidade.

Como você via o grau de comprometimento dos professores no pré?
A única coisa que podíamos oferecer eram as declarações de prática de ensino. Isso atraía alguns alunos da UFF. É difícil motivar sem remuneração. Conseguimos motivar os professores através da busca incessante por superar nossos próprios resultados e criamos o princípio da retroalimentação: todo aluno aprovado era convidado para se tornar monitor e começar um treinamento para se tornar professor. Os ex-alunos que se tornavam professores tinham um compromisso e carinho muito grande com o curso! E dava certo: conseguimos manter um grupo motivado e empolgado na busca pelos resultados!

Número de alunos matriculados triplicou / Foto: Acervo pessoal
O pré-vestibular comunitário pode ser um pontapé inicial para a inserção de jovens de baixa renda na universidade ou ainda é pouco?
O pré-vestibular é importante para amenizar o abismo que existe entre os alunos da rede pública e da rede particular. Mas a solução para colocar jovens carentes na universidade pública é o investimento forte na educação pública de base.  É preciso valorização dos profissionais da educação e mais do que isso, é preciso planejamento estratégico para alcançar os resultados necessários.


O que falta na educação pública brasileira? Falo do ensino básico...
Faltam investimentos e planejamento estratégico. Os recursos destinados à educação são muito poucos comparados aos países desenvolvidos. A profissão de professor está cada vez mais desvalorizada. Qual jovem hoje em dia quer ser professor? É preciso valorizar o magistério. Mas acredito que o grande problema é a falta de um planejamento estratégico. Hoje temos grandes ferramentas de avaliação com o Ideb e o Enem. É preciso definir bem metas e objetivos para as escolas e garantir a execução deste planejamento. Hoje isso não é feito. O estado do Rio é um exemplo. Obteve um péssimo resultado no último Enem. E aí? O que mudou de fato no dia a dia das escolas para melhorar o desempenho dos alunos? No pré da UFF tínhamos metas bem definidas. E todos sabiam exatamente o que fazer para alcançar os resultados desejados!

E na universidade pública? Quais os principais erros que precisam ser reparados?
A universidade pública reúne os melhores alunos do país! E por isso ainda forma os melhores profissionais do Brasil! Os salários dos professores ainda são bons e o planejamento é um pouco melhor definido. Porém existe uma dificuldade de fiscalizar a execução deste planejamento. Alguns profissionais da Universidade atuam da maneira que bem entendem, ou seja, sem fiscalização nenhuma. Então não adianta ter planejamento se não tem fiscalização para garantir que os profissionais sigam este planejamento. Outro ponto importante é a melhoria da infra-estrutura para continuar a garantir um ensino de excelência.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Impressões acadêmicas sobre o Carnaval no Rio

1- “Ôôô o Rio é melhor que Salvadôôôr” gritavam uns foliões nas Barcas.
2- “Tchu, tcha, tcha, tchu, tchu, tcha” gritavam outros foliões nas Barcas.
3- Nem perca seu tempo me chamando pra um bloco que costuma dar mais de 50 mil pessoas.
4- Carioca da Gema: o bloco é melhor que o bar. Infinitamente. Aliás, é o melhor bloco do Rio.
5- Bloco Cru é quase uma experiência antropofágica.
6- Se o mesmo bloco desfilar no Rio e em Niterói, no Rio a festa ficará boa e em Niterói ficará uma droga.
7- A Rio Branco não é uma avenida, é um erro.
8- Tem muito mais do que 7 bilhões de pessoas no Rio de Janeiro durante o Carnaval. Pelo menos é essa a impressão que a gente tem...
9- Ainda há que se achar uma solução para o problema dos banheiros. O número nunca é suficiente – vide a quantidade de mijões indo pra delegacia...
10- É como dizem: agora começa aquela parte chata do ano, que fica entre o Carnaval e o Natal.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Impressões acadêmicas sobre Salvador

1. Campo Grande em Salvador é um lugar bem mais bonito que Campo Grande no Rio.
2. As boates de Salvador tocam bastante música brasileira – e isso é bom, apesar das boates serem ruins. 
3. Acarajé da Dinha: como não amar?
4. Os museus de Salvador poderiam ser um pouquinho mais arrumados (vi algumas obras sem placa de identificação, por exemplo).
5. Não, eu não vou pagar R$8 numa lata de Nova Schin.
6. “Um cheiro” = “Valeu, forte abraço”
7. Ao contrário do que muitos me disseram (inclusive moradores), Salvador não me pareceu uma cidade tão violenta; vi bastante policiamento e me senti seguro nos locais por onde passei.
8. Não tenho medo de altura, mas subir no Farol da Barra dá uma vertigem que olha...
9. Ah, vai... É bom passar uma tarde em Itapuã (por mais clichê que isso pode parecer).
10. Viajar é bom. O ruim é voltar pra casa com aquele gostinho de “queria ter ficado mais”.

***

11. Não, Caldinho de Sururu não é gostoso, nem vem!
12. É bom demais ver a expressão dos turistas estrangeiros quando eles entram no Elevador Lacerda e descobrem que não é um elevador panorâmico.

(Esses dois últimos tópicos foram com a colaboração da companheira de viagem Sharon Ohana)

sábado, 31 de dezembro de 2011

Acadêmicos do Ano Novo

Praia de Copacabana, festa em casa, noitada em boate. São muitas as opções para passar a virada do ano. Mas como os acadêmicos vão comemorar a chegada de 2012?

Para o último dia do ano, convidei alguns acadêmicos amigos para descreverem como vão passar a virada. Do mais, basta usar imaginação e desejar boas vibrações para este, que promete ser o ano do fim do mundo.

Renan Barreto – Jornalista, blogueiro e escritor
Acho que a melhor forma de passar o fim de ano é com quem a gente ama. No meu caso será com a minha namorada. Bem, namorada até o dia 31 deste ano, pois na virada, ela já será minha noiva. Dia primeiro de janeiro, além de tudo, é aniversário dela. Então, se é para falar sobre inícios de ciclos, de projetos, de novas etapas da vida, então posso dizer que em 2012 minha vida será diferente de certa forma. Acho que o ideal não é passar somente no lugar, afinal de contas o mais importante é com quem passaremos o dia 31. Seja na praia ou no campo, ou quem sabe, dentro de casa. Desde que seja com amor, podemos estourar o champanhe em qualquer lugar. A minha dica é essa. Passe com quem ama.
Música da virada: "Do you Remember" – Jack Johnson



Pedro Del Picchia – Psicólogo, Mestrando em Comunicação e Semiótica na PUC-SP
Bom, meu Reveillon vou passar em uma casa de campo de uma amiga com vários amigos mestrandos também! Galera que eu conheço desde o tempo de colégio, cada um foi para um lado diferente, mas sempre se encontra. Encher a lata, falar merda e lembrar que, o tempo passa, mas algumas coisas, ainda bem, continuam as mesmas.
Música da virada: “Folhas Secas” – Nelson Cavaquinho.



Emília Parentoni – Doutora em Engenharia de Transportes
Dizem que a festa da virada do Ano aqui [na Alemanha, onde está fazendo pós-doutorado] é lindíssima. Apesar do frio, as ruas ficam lotadas e a queima de fogos no ponto turístico mais importante de Berlin, Portao de Brandemburgo (Brandenburger Tor) é imperdível. Portanto, estarei la. Estou aqui trabalhando como professora cientista internacional convidada pela TU Berlin. Aqui eles adoram o Brasil e em todas as festividades toca a musica "Garota de Ipanema" o que me emociona muito... Então fica essa dica para a música que eu gostaria de ouvir para me sentir mais perto da minha terra.
Música da virada: “Garota de Ipanema” – Vinícius de Moraes



Danilo Motta – Jornalista, escritor, mestre em Estudos de Literatura
Minha virada será em duas etapas. Primeiro um jantar na casa de uma professora da minha graduação que acabou se tornando uma grande amiga pós-formatura. Depois, passarei mais uma vez na Praia de Copacabana – sim, bem clichê, mas é o que tem para hoje. O objetivo é voltar para casa bem cedo porque, como todo bom repórter, estou de plantão no dia 1º de janeiro...
Música da virada: “Party Rock Anthem” – LMFAO ft. Lauren Bennett & GoonRock

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Uma tarde na biblioteca

É muito fácil – e confortável – falar mal do poder público e dos políticos (independente de quais políticos sejam esses). Elogiar iniciativas governamentais é o que exige um olhar mais apurado. E, sim, é isso o que eu vou fazer agora.

Um dia de folga, nesse recesso de fim de ano, dei uma passada na Biblioteca Pública de Niterói (BPN) para ver como ficou a reforma. Durante a minha graduação e mestrado, entrei ali para pesquisar inúmeras vezes e, depois de meses fechada para obras, ainda não tinha conferido o resultado final. E me surpreendi.

O prédio ficou lindo por dentro e a organização do acervo permite mais fácil acesso aos livros pelos frequentadores. A biblioteca está com wi-fi em boa parte de suas instalações e – diferente de como funcionava antes da reforma – você não paga mais para fazer cadastro e para pegar empréstimo de livros. Há, ainda, funcionários em todos os setores para orientar as pesquisas.

Tudo isso tem em muitas outras bibliotecas – mas só quem conhecia a BPN antiga vai entender o choque que eu levei. Mas há uma diferença brutal em relação à versão antiga da biblioteca que, para mim, foi o principal diferencial: o novo horário de funcionamento.

A BPN fica aberta das 10h às 20h de terça a sexta-feira. Eu seja: dá pra sair do trabalho e dar um pulo lá para pegar/devolver um livro. Mas o melhor ainda está por vir: a BPN fica aberta sábado e domingo até às 16h. Isso é perfeito para pesquisadores que, como eu, não vivem exclusivamente de pesquisa e trabalham a semana toda em horário comercial.

Mas, como nada é só positivo, todos os cadastros de frequentadores de antes da reforma foram perdidos. Então, se você tinha a carteirinha da biblioteca, você precisa fazer de novo. Mas nem tente fazer isso tão cedo: o sistema está fora do ar e sem previsão de reparo.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Liberdade de expressão? Aqui?!?

Quanto mais genial é um pensador, mais atemporal é sua obra. E tive um bom exemplo disso hoje, quando estava lendo um livro do Erich Fromm - O Medo à Liberdade.

Fromm é um autor que eu gosto muito, mesmo não conhecendo (ainda) toda sua obra. Neste livro ele mostra o quanto o homem tem medo da liberdade pelo fato de esta palavra significar, não raro, isolamento, individualidade e, consequentemente, angústia. O autor joga por terra a noção de liberdade que nós em geral temos e propõe algumas reflexões sobre o tema. O trecho que me deixou, digamos, incomodado foi o seguinte:

Achamos que a liberdade de expressão é o último passo na marcha para a vitória da liberdade. Esquecemos que, conquanto a liberdade de expressão constitua uma vitória importante na batalha contra as restrições antigas, o homem moderno se encontra em uma situação em que muito do que “ele” pensa e diz são as coisas que todos os demais pensam e dizem; que ele não adquiriu a capacidade de pensar originalmente – isto é, por si mesmo –, a única que pode dar conteúdo à sua alegação de que ninguém pode interferir na manifestação de suas idéias.

Não há nada mais atual do que esse texto, escrito em 1941, no meio da Segunda Guerra Mundial. Hoje vejo nas conversas informais e, principalmente, nas redes sociais uma defesa arraigada da liberdade de expressão. Entretanto, podem me chamar de ingênuo, mas não consigo notar cerceamento algum – pelo contrário, todo mundo tem o direito de dizer o que quiser, desde que se responsabilize por isso. O problema maior é que, na mão desses defensores, liberdade de expressão tornou-se liberdade de repetir o que já foi dito. E nisso não há liberdade alguma.

Retomando o trecho de Fromm, enquanto essa moçada não começar a pensar por conta própria, livre de influências manipulações externas, haverá somente uma falsa sensação de liberdade. Mas ela é prazerosa. Então, vamos defendê-la...

Por hora, fico com as palavras do Gabriel, o Pensador: “Liberdade de expressão? Aqui?! Ah... Não existe!”

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Resultado da promoção!

Galera, foram muitos RTs, várias pessoas participando da promoção – o que me deixou bem feliz, não só por que se tratava do meu livro, mas porque mostra que os tuiteiros também estão se interessando por crítica literária. Mas só um poderia ganhar.

E o ganhador foi...

@senhor_h!

Parabéns, meu nobre! Mas se você não me enviar seu endereço até às 12h desta quinta-feira (22), serei obrigado a fazer outro sorteio! Então não dê bobeira!

Quem está achando que teve marmelada, pode ver o resultado do sorteio aqui!

Quem não ganhou o livro, pode comprar aqui!

Obrigado a todos pela participação!