domingo, 25 de setembro de 2011

Por um mundo mais 'pop'

Uma vez perguntaram pro Andy Warhol o que era ser pop. Daí ele respondeu: “ser pop é gostar das coisas”. Simples assim.

No documentário “Outros doces bárbaros”, alguém pergunta para o Gil: “Como é que você consegue gostar da Sandy?”. Ele cita a frase do Warhol e diz algo do tipo: “eu sou pop, eu aprendi a gostar das coisas”.

Cito esses dois episódios porque eu vejo um certo ódio entre pessoas que seguem tendências diferentes – e não necessariamente opostas. Para ser mais preciso, vejo um ódio muito grande entre pessoas que curtem estilos musicais diferentes. Para ser ainda mais preciso, vejo um ódio absurdo entre quem gosta de rock e quem gosta de qualquer outro estilo de música. E eu acho isso tudo uma grande babaquice.

No dia de metal do Rock in Rio, li uma matéria dizendo que tava rolando uma brincadeira com um casamento feito no estilo rock n roll. No final da cerimônia, o padre de mentirinha fala pros noivos se amarem “até que o pagode e o sertanejo os separe”. Grande babaquice.

Acho esse tipo de brincadeirinha extremamente imbecil, pois coloca pagode e sertanejo como algo tão ruim, que poderia ser comparável à própria morte. Nada mais condenável.

Fico bastante triste por ver essa postura por parte de alguns roqueiros. Se o rock nasceu para ser transgressor, para combater os preconceitos, para combater as injustiças, por que diabos fazer esse tipo de piadinha contra os artistas e os fãs do pagode e do sertanejo, que nada mais fazem além de curtir sua música preferida? Roqueiros que pensam – e agem – assim se igualam aos camaradas que criticavam ferozmente o rock. Se igualam a todos os instrumentos de censura e opressão que se opunham ao rock.

O pior é que a patrulha dos roqueiros xiitas não para por aí. Qualquer banda – mesmo de rock – que não se enquadre naquele estereótipo de música pesada, cheia de distorção, corre o risco de ser taxada de não-é-rock. Foi o que eu vi no show do Frejat na Exposição Agropecuária de Cordeiro (RJ) em 2008. O locutor da festa anunciou algo do tipo: “Agora com vocês um dos maiores nomes do rock nacional: Frejat”. A namorada de um amigo meu falou: “Ah, tá, Frejat nem é rock, quanto mais um dos maiores nomes”. Os dois formam um belo casal metaleiro.

Frejat pode até não ser um dos maiores nomes, mas reflitamos: por que não seria rock? Ele não teve uma banda que desafiou a sociedade do seu tempo e botou pra quebrar? Só porque hoje em dia as músicas dele são mais elaboradas, têm menos distorção e menos gritaria ele deixa de se filiar ao Partido do Rock Nacional? Na minha humilde opinião, nada disso faz sentido.

Sim, eu sou roqueiro e achei a frase do “padre” do Rock in Rio o exemplo perfeito para este post, porque pagode e sertanejo são dois dos poucos estilos de música que não me agradam em absolutamente nada. O resto todo me agrada. De Skid Row a Lady Gaga. De Megadeth a Maria Rita. Gosto de tudo porque aprendi a gostar das coisas. Sou pop. E quem dera mais gente fosse.


P.s.: Não, eu não gosto da Sandy. Tudo tem limite, né, gente...

4 comentários:

  1. Onde há preconceito a visão e o bom senso desaparecem e as opiniões não tem tempo nem espaço para serem coerentes. Gostei dos "roqueiros" atuais censurando kkkkkkkkkk, não entenderam nada.
    Parabéns Danilo!

    Eu gosto da Sandy, também.

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  2. Pois é, mãe, depois de anos levando porrada, resolveram alterar a lógica da opressão: quem tava apanhando agora vai bater.

    Por outro lado, como bem reparou o @ferrreira no Twitter, tem muita gente que diz que não gosta de de uma determinada banda rock alegando que não presta só porque não é diva pop. Eu acrescento: só porque não é diva pop OU porque não se veste coloridinho etc...

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  3. Como você é rockeiro, lembre-se que rock também é humor. A piadinha do padre nada mais é que uma crítica à mediocridade do pagode e sertanejo. Não precisa ser "imbecilidade", seu puta revoltz.

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  4. Sim, rock é (também) humor, mas quando você associa um estilo musical à morte - ou a um motivo para separação - eu acho que perde a linha. Mas a piadinha do padre foi só o mote para o debate, poderia ter pego outros exemplos.

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