A minha mais recente leitura foi um livro que estava na minha lista (sim, eu tenho uma lista de "próximas leituras") há alguns anos (pasme), mas só agora tive saco tempo de pegar para ler. E até que gostei. Em partes. Trata-se do Este lado do paraíso, do F. Scott Fitzgerald (lê-se “Fitzgérald”).
O livro, publicado em 1920, quando o autor tinha 24 anos, conta a história de Amory Blaine, “o egocêntrico romântico”, desde quando ele era uma criança mimada até a fase adulta, cheia de responsabilidades e cobranças. O personagem, como o próprio Fitzgerald admite, deixa transparecer muito sobre o autor. “Não gostaria de falar de mim, pois admito que já o fiz bastante neste livro”, diz no prefácio “Uma justificativa do autor”.
No todo, pode-se dizer que o romance é legal. Entre drinks e festas de universidade, os personagens nos presenteiam com frases fortes e pensamentos bastante marcantes. Aliás, este é um dos pontos altos do livro, que fazem compensar a narrativa lenta adotada pelo autor. Mas entre um tédio e outro, somos surpreendidos com algo do tipo:
“Se alguém não puder ser um grande artista ou um grande soldado, o melhor que lhe resta é ser um grande criminoso.”
Ou ainda:
“Não é que eu me incomode com esse brilhante sistema de castas”, confessou Amory. “Gsto de saber que os primeiros lugares cabem aos sujeitos alinhados, mas puxa vida, Kerry, tenho de ser um deles!”
Amory é um personagem que alterna entre a frivolidade e um profundo conhecimento artístico/literário. Em diversas passagens ele discute o valor de uma obra de arte com algum de seus amigos. Em outras, ele revela um desejo de pertencer às classes mais elevadas da hierarquia social de Princeton. No todo, acaba sendo um personagem bastante interessante.
As últimas passagens do livro fazem valer toda a leitura. São nas últimas páginas em que aparece a definição de Amory bastante peculiar para “classe média”:
“Estes homens de mentalidade mofada, que apenas alisaram os bancos escolares, que pensam que pensam cada questão que surge... bem, gente assim encontra-se em cada esquina. Num momento eles se manifestam sobre ‘a brutalidade e desumanidade desses prussianos’ e, logo em seguida, declaram que ‘deveríamos exterminar todo o povo alemão’. Estão sempre acreditando que ‘a situação, agra, não está nada bem’, mas eles ‘não têm qualquer fé nesses idealistas’. Num minuto afirmam que Wilson ‘não passa de um sonhador, não é nada prático’, e daí a um ano aderem a ele por ter tornado seus sonhos realidades. Não possuem ideias claras e lógicas sobre um único assunto, exceto uma posição retrógrada e insensível a qualquer mudança. Julgam que as pessoas sem instrução não deveriam ser bem pagas, mas não percebem que se não pagarem bons salários a essa gente seus filhos também não terão uma boa educação, o que nos leva a um círculo vicioso Essa é a famosa classe média.”
No todo, é uma leitura que oscila entre diálogos muito interessantes e trechos bastante arrastadas. Vale a leitura, pois é um retrato não só de um personagem, mas de toda uma geração.
Do Fitzgerald, só li O Grande Gatsby que, aparentemente, sofre dos mesmo defeitos de Este lado do paraíso: frases e diálogos fortes perdidos no meio de uma narrativa arrastada. Vou procurar mais sobre esse livro.
ResponderExcluirAbraço,
Guilherme
Este é o único livro do Fitzgerald que eu conheço. Pelo visto, esse parece ser o estilo do autor mesmo!
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