quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Sobre festivais e indústria de cigarro

Há algum tempo venho pensando na proibição de indústrias de cigarros patrocinarem eventos culturais – principalmente festivais de música. Mas duas notícias que eu li nos últimos dias me motivaram a escrever este post.

A primeira fala sobre os rendimentos bilionários da indústria de cigarro no Brasil, que apresenta crescimento, apesar da redução no número de fumantes e das leis antifumo. A outra, diz respeito a uma possível alteração na legislação em vigor, permitindo que fabricantes de cigarro voltem a patrocinar eventos.

Como bem destaca a segunda matéria, os fabricantes de cigarros já foram responsáveis por grandes eventos no Brasil, como o Free Jazz Festival, o Hollywood Rock, o Carlton Dance, só para citar os festivais de música. Isso sem contar torneios esportivos, peças de teatro, dentre outros tipos de eventos.

Ok, também sou contrário ao patrocínio de eventos esportivos por parte de fabricantes de cigarro, afinal, esporte é saúde e o cigarro está no extremo oposto. Mas por que não permitir que tais empresas patrocinarem ou organizarem festivais de música?

Vimos, nos festivais mais recentes, bandas se estapeando em busca de espaço para tocar, produtores cometendo verdadeiras injustiças na montagem do set list, ingressos algumas vezes mais caros do que muitos fãs poderiam pagar. Por outro lado, vemos um setor industrial com um faturamento bastante elevado, mas impedido de investir em festivais de música em nome de um suposto combate ao tabagismo.

Deixando de lado os aspectos legais da MP que altera a legislação do tabaco, acho bem fraco este argumento de que um evento patrocinado por companhias de cigarro poderia servir como um incentivo ao hábito de fumar. Tudo bem que a propaganda seduz e pode incentivar o consumo. Que se proíba a propaganda então e deixem as empresas fazerem festivais!

Não consigo acreditar que uma pessoa vá começar a fumar só porque foi a um Hollywood Rock, por exemplo. Principalmente porque, caso a nova legislação entre em vigor, a marca do produto não ficará exposta, e sim o nome da empresa.

Já pensou um Philip Music Morris, com os maiores nomes da música nacional e internacional a um preço que você pode pagar? Sim, porque com o retorno institucional do evento, a empresa pode reduzir sua margem de lucro com o festival e ainda assim sair ganhando.

Mais do que a aprovação da MP – que também restringe ainda mais o fumo em locais públicos –, acho particularmente interessante que este debate tenha voltado à tona. Principalmente em um ano que teve Rock in Rio, SWU, Planeta Terra...


P.s.: Sou contrário à proibição da propaganda nos pontos de venda, outro ponto incluído na MP. Mas isso fica para outra discussão...

5 comentários:

  1. Sou ex-fumante não-xiita. Já não fumava mais quando da proibição e tal...e o que eu vi me assustou.As pessoas demonizaram o fumante de um jeito que pareciam participar de uma cruzada religiosa.Tinham um prazer sexual em caguetar os foras-da-lei. Se um festival tiver qualquer associação c/ cigarro vai ter passeata, occupy, Maitê tirando o sutiã, hash tag e etc. Mesmo que a legislação permita, a caretização geral da nação vai impedir.A lei da hipocrisia diz que tem que ser "engajado". assinado: a pessimista de santo andré.

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  2. Nossa... O comentário da Rose foi melhor que o post inteiro, rs... Mas vamos lá:
    Acho que, realmente, vai ter uma reação contrária, mesmo com a legislação permitindo. Mas acho, sinceramente, que se houver um festival com todos os tramites legais correndo direitinho, quem é fã vai e quem demoniza vai ficar chupando o dedo. Lembra de alguns fanáticos religiosos dizendo que o RiR era coisa do demônio? Sempre vai ter uma reação contrária, mas não creio que seria o suficiente para impedir a realização do evento.

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  3. Também me parece bobo essa proibição. Fui a varios hollywood e rock e dois free Jazz e nem me passou pela cabeça que eu então deveria fumar. O que tem a ver uma coisa com outra? Seria mais produtivo se essa MP, em vez de se preocupar que as companhia milionárias de cigarro patrocinassem eventos musicais e culturais, obriga-las a manter uma instituição de combate ao cancer, por exemplo.

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  4. Também seria uma contrapartida interessante! Mas acho que a proibição da publicidade e a proibição do fumo em espaços públicos já são o suficiente!

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  5. a única coisa q acho ruim é que muito provavelmente (well, não li a MP...) o dinheiro pra bancar esses festivais vai passar pela lei rouanet, ou seja, vão descontar do irpj o investimento em marketing institucional. ótimo negócio!

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