sábado, 31 de dezembro de 2011

Acadêmicos do Ano Novo

Praia de Copacabana, festa em casa, noitada em boate. São muitas as opções para passar a virada do ano. Mas como os acadêmicos vão comemorar a chegada de 2012?

Para o último dia do ano, convidei alguns acadêmicos amigos para descreverem como vão passar a virada. Do mais, basta usar imaginação e desejar boas vibrações para este, que promete ser o ano do fim do mundo.

Renan Barreto – Jornalista, blogueiro e escritor
Acho que a melhor forma de passar o fim de ano é com quem a gente ama. No meu caso será com a minha namorada. Bem, namorada até o dia 31 deste ano, pois na virada, ela já será minha noiva. Dia primeiro de janeiro, além de tudo, é aniversário dela. Então, se é para falar sobre inícios de ciclos, de projetos, de novas etapas da vida, então posso dizer que em 2012 minha vida será diferente de certa forma. Acho que o ideal não é passar somente no lugar, afinal de contas o mais importante é com quem passaremos o dia 31. Seja na praia ou no campo, ou quem sabe, dentro de casa. Desde que seja com amor, podemos estourar o champanhe em qualquer lugar. A minha dica é essa. Passe com quem ama.
Música da virada: "Do you Remember" – Jack Johnson



Pedro Del Picchia – Psicólogo, Mestrando em Comunicação e Semiótica na PUC-SP
Bom, meu Reveillon vou passar em uma casa de campo de uma amiga com vários amigos mestrandos também! Galera que eu conheço desde o tempo de colégio, cada um foi para um lado diferente, mas sempre se encontra. Encher a lata, falar merda e lembrar que, o tempo passa, mas algumas coisas, ainda bem, continuam as mesmas.
Música da virada: “Folhas Secas” – Nelson Cavaquinho.



Emília Parentoni – Doutora em Engenharia de Transportes
Dizem que a festa da virada do Ano aqui [na Alemanha, onde está fazendo pós-doutorado] é lindíssima. Apesar do frio, as ruas ficam lotadas e a queima de fogos no ponto turístico mais importante de Berlin, Portao de Brandemburgo (Brandenburger Tor) é imperdível. Portanto, estarei la. Estou aqui trabalhando como professora cientista internacional convidada pela TU Berlin. Aqui eles adoram o Brasil e em todas as festividades toca a musica "Garota de Ipanema" o que me emociona muito... Então fica essa dica para a música que eu gostaria de ouvir para me sentir mais perto da minha terra.
Música da virada: “Garota de Ipanema” – Vinícius de Moraes



Danilo Motta – Jornalista, escritor, mestre em Estudos de Literatura
Minha virada será em duas etapas. Primeiro um jantar na casa de uma professora da minha graduação que acabou se tornando uma grande amiga pós-formatura. Depois, passarei mais uma vez na Praia de Copacabana – sim, bem clichê, mas é o que tem para hoje. O objetivo é voltar para casa bem cedo porque, como todo bom repórter, estou de plantão no dia 1º de janeiro...
Música da virada: “Party Rock Anthem” – LMFAO ft. Lauren Bennett & GoonRock

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Uma tarde na biblioteca

É muito fácil – e confortável – falar mal do poder público e dos políticos (independente de quais políticos sejam esses). Elogiar iniciativas governamentais é o que exige um olhar mais apurado. E, sim, é isso o que eu vou fazer agora.

Um dia de folga, nesse recesso de fim de ano, dei uma passada na Biblioteca Pública de Niterói (BPN) para ver como ficou a reforma. Durante a minha graduação e mestrado, entrei ali para pesquisar inúmeras vezes e, depois de meses fechada para obras, ainda não tinha conferido o resultado final. E me surpreendi.

O prédio ficou lindo por dentro e a organização do acervo permite mais fácil acesso aos livros pelos frequentadores. A biblioteca está com wi-fi em boa parte de suas instalações e – diferente de como funcionava antes da reforma – você não paga mais para fazer cadastro e para pegar empréstimo de livros. Há, ainda, funcionários em todos os setores para orientar as pesquisas.

Tudo isso tem em muitas outras bibliotecas – mas só quem conhecia a BPN antiga vai entender o choque que eu levei. Mas há uma diferença brutal em relação à versão antiga da biblioteca que, para mim, foi o principal diferencial: o novo horário de funcionamento.

A BPN fica aberta das 10h às 20h de terça a sexta-feira. Eu seja: dá pra sair do trabalho e dar um pulo lá para pegar/devolver um livro. Mas o melhor ainda está por vir: a BPN fica aberta sábado e domingo até às 16h. Isso é perfeito para pesquisadores que, como eu, não vivem exclusivamente de pesquisa e trabalham a semana toda em horário comercial.

Mas, como nada é só positivo, todos os cadastros de frequentadores de antes da reforma foram perdidos. Então, se você tinha a carteirinha da biblioteca, você precisa fazer de novo. Mas nem tente fazer isso tão cedo: o sistema está fora do ar e sem previsão de reparo.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Liberdade de expressão? Aqui?!?

Quanto mais genial é um pensador, mais atemporal é sua obra. E tive um bom exemplo disso hoje, quando estava lendo um livro do Erich Fromm - O Medo à Liberdade.

Fromm é um autor que eu gosto muito, mesmo não conhecendo (ainda) toda sua obra. Neste livro ele mostra o quanto o homem tem medo da liberdade pelo fato de esta palavra significar, não raro, isolamento, individualidade e, consequentemente, angústia. O autor joga por terra a noção de liberdade que nós em geral temos e propõe algumas reflexões sobre o tema. O trecho que me deixou, digamos, incomodado foi o seguinte:

Achamos que a liberdade de expressão é o último passo na marcha para a vitória da liberdade. Esquecemos que, conquanto a liberdade de expressão constitua uma vitória importante na batalha contra as restrições antigas, o homem moderno se encontra em uma situação em que muito do que “ele” pensa e diz são as coisas que todos os demais pensam e dizem; que ele não adquiriu a capacidade de pensar originalmente – isto é, por si mesmo –, a única que pode dar conteúdo à sua alegação de que ninguém pode interferir na manifestação de suas idéias.

Não há nada mais atual do que esse texto, escrito em 1941, no meio da Segunda Guerra Mundial. Hoje vejo nas conversas informais e, principalmente, nas redes sociais uma defesa arraigada da liberdade de expressão. Entretanto, podem me chamar de ingênuo, mas não consigo notar cerceamento algum – pelo contrário, todo mundo tem o direito de dizer o que quiser, desde que se responsabilize por isso. O problema maior é que, na mão desses defensores, liberdade de expressão tornou-se liberdade de repetir o que já foi dito. E nisso não há liberdade alguma.

Retomando o trecho de Fromm, enquanto essa moçada não começar a pensar por conta própria, livre de influências manipulações externas, haverá somente uma falsa sensação de liberdade. Mas ela é prazerosa. Então, vamos defendê-la...

Por hora, fico com as palavras do Gabriel, o Pensador: “Liberdade de expressão? Aqui?! Ah... Não existe!”

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Resultado da promoção!

Galera, foram muitos RTs, várias pessoas participando da promoção – o que me deixou bem feliz, não só por que se tratava do meu livro, mas porque mostra que os tuiteiros também estão se interessando por crítica literária. Mas só um poderia ganhar.

E o ganhador foi...

@senhor_h!

Parabéns, meu nobre! Mas se você não me enviar seu endereço até às 12h desta quinta-feira (22), serei obrigado a fazer outro sorteio! Então não dê bobeira!

Quem está achando que teve marmelada, pode ver o resultado do sorteio aqui!

Quem não ganhou o livro, pode comprar aqui!

Obrigado a todos pela participação!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

É possível perder um talento?

De todos os livros do Philip Roth que eu li, creio que A Humilhação representa melhor o universo deste tão premiado escritor. Nele, Roth coloca em questão a noção de talento ao apresentar para o público um ator que perdeu toda a sua capacidade de encenar.

Como de costume na obra do Roth, o protagonista é um homem idoso. O livro tem um texto bastante forte, com palavras e expressões contundentes, cheio de referências à psicanálise, a outras obras da literatura e, mais particularmente neste romance, ao teatro.

O protagonista, Simon Axler, é um dos principais atores de teatro de sua geração. De um dia para o outro, a capacidade de atuar desaparece sem deixar vestígios. “Em vez da certeza de que teria um desempenho maravilhoso, sabia que ia fracassar.” Daí em diante, sua vida vai em uma decrescente constante. Tem relacionamentos conturbados com mulheres, se envolve com uma ex-lésbica e imerge em uma arriscada aventura sexual – “E se ele acabasse sendo apenas um rápido parênteses de intrusão masculina numa vida lésbica?”. O desfecho da trama é eletrizante, súbito e surpreendente.

Eu, que não sou exatamente um apaixonado por teatro (ok, tem meses anos que eu não vejo uma peça, mas também não dá pra fazer tudo, né?), já achei “A Humilhação” um livro muito bom. Talvez este romance dialogue ainda melhor com quem entende de artes cênicas mais a fundo. Shakespeare é citado nos diálogos, assim como a mitologia grega. É um texto rápido – o livro tem só 102 páginas – com um forte potencial teórico.

Como não poderia deixar de ser, encerro esse post com uma passagem que resume bem o espírito do livro:

Quando você representa o papel de uma pessoa que está entrando em parafuso, a coisa tem organização e ordem; quando você observa a si próprio entrando em parafuso, desempenhando o papel da sua própria queda, aí a história é outra, uma história de terror e medo.
Axler não conseguia se convencer de que estava louco, tal como não havia conseguido convencer ninguém, nem mesmo a si próprio, de que era Próspero ou Macbeth. Era um louco artificial também. O único papel que conseguia desempenhar era o de alguém que desempenha um papel.


P.s.: Só como curiosidade, A Humilhação é (pasme) o trigésimo livro do Philip Roth.

P.s. 2: As capas dos livros do Philip Roth são sempre magníficas. Vale muito a pena comprar o livro para ter essa beleza em sua estante...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Retrospectiva literária

Fim de ano é tempo de retrospectivas. Então, para entrar no clima, resolvi publicar a listinha dos livros que eu li desde o início do ano. Tudo bem que 2011 não foi um ano que eu pude me dedicar à leitura como eu gostaria – a conclusão do Mestrado me deixou uns bons meses me dedicando só à entrega da minha dissertação. Então, que 2012 seja um ano mais tranquilo para que a próxima lista seja mais extensa!

Segue a listagem em ordem cronológica:

1 – A fúria do corpo (João Gilberto Noll)
2 – As aventuras de Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll)
3 – A sociedade individualizada (Sigmunt Bauman)
4 – Através do espelho e o que Alice encontrou por lá (Lewis Carroll)
5 – Drácula (Bram Stoker)
6 – A humilhação (Philip Roth)
7 – O enterro do anão  (Chico Anísio)
8 – Rei Édipo (Sófocles)
9 – A linguagem proibida (Dino Preti)
10 – Este lado do paraíso (F. Scott Fitzgerald)
11 – A cortina de ouro (Cristovam Buarque)
12 – Leite derramado (Chico Buarque)
13 – Louca por você (Fernanda Belém)
14 – O medo à liberdade (Erich Fromm – em andamento)

Então já sabem, caros leitores: se for me dar um livro de presente de Natal, que não seja nenhum desses, porque esses eu já li!

Brincadeiras à parte, eu gostei de todas as minhas leituras. Fica esse post como sugestão de bons livros para 2012!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Promoção!

Promoção quentinha pra esse fim de ano! Vou sortear um exemplar do meu livro – Literatura, Política e Linguagem – entre os leitores do blog.

Não conhece meu livro ainda? Aqui vai a sinopse:

O que diferencia a linguagem cotidiana da linguagem usada na política? Como literatura e política dialogam entre si no contexto contemporâneo? Pode a literatura representar os valores e conceitos de uma determinada sociedade sem cair nos tão combatidos estereótipos? Em seu livro de estreia, o autor procura levantar um debate sobre representações políticas e culturais que podem ser observadas sob diferentes aspectos na sociedade contemporânea.

Gostou? Então participe! Você precisa:

1 - Morar no Brasil

2 – Publicar essa frase no Twitter: Quero ganhar o livro “Literatura, Política e Linguagem”, do @diretodaredacao http://kingo.to/VXR

3 - Precisa seguir no Twitter: @diretodaredacao

4 - Após o resultado do sorteio, o vencedor tem até 24h para responder a DM com seu endereço para que eu possa enviar o livro. Caso não responda, um novo sorteio será realizado.

A promoção termina nesta quarta-feira (21). Boa sorte!

P.s.: Quem quiser comprar o livro, só entrar aqui.

O primeiro de muitos?

É muito difícil fazer uma crítica do trabalho de alguém que você gosta muito. Primeiro porque você fica emocionalmente comprometido por gostar da pessoa e isso pode tornar sua visão nublada. Segundo pelo medo de que a crítica – no seu sentido mais puro – seja entendida como um ataque pessoal, ou algo do tipo. Este foi o meu desafio ao escrever sobre o livro “Louca por você”, da Fernanda Belém.

A Fernanda é uma grande amiga minha e isso eu já falei aqui no blog. O livro dela tem uma linguagem bastante jovial e fala sobre a peleja de uma jovem – Renata – para ter o ex-namorado – Vítor - de volta. O problema é que ele já tem outra namorada e isso complica a vida dos dois. No romance, a autora aborda temas como virgindade, traição, fidelidade, paixão e amizade sem pudores ou falsos moralismos. E com a delicadeza de quem tem o dom da palavra.

A narrativa é feita em primeira pessoa sendo que a Renata e o Vítor se revezam como narradores. Esse é um ponto bastante positivo que merecia ter sido mais explorado.

São poucas as passagens em que Vitor assume a forma de narrador e isso é muito ruim. A autora fica no meio termo entre criar uma linha narrativa diferente – com dois narradores – e manter um padrão tradicional – com apenas um narrador. A criação de novidades estéticas em uma obra deve ser feita sem indecisão por parte do autor. Em outras palavras: se vai fugir à tradição, que faça com força.

Novamente, a autora mostra um pouco de hesitação ao incluir os e-mails trocados pelos personagens no texto. No capítulo 10 isso fica claro. Ela introduz o capítulo com quatro paragrafinhos e coloca a íntegra de um e-mail enviado por Renata ao Vítor. Depois, mais quatro paragrafinhos e a resposta do Vítor. No fim das contas, essa inserção da narradora entre um e-mail e outro é desnecessária. O leitor é capaz de entender que se trata de uma troca de e-mails entre os personagens e o contexto em que ele se dá. A autora perde a oportunidade de quebrar a sequência narrativa que vinha desenvolvendo e surpreender o leitor com isso.

No todo, o resultado é bastante positivo. O texto tem um ritmo bom e prende a atenção do leitor. É lógico que o leitor deve ter em mente que está diante de um livro voltado para o público mais jovem. Mas isso não desvaloriza em nada o livro. Muito pelo contrário: escrever para jovens é algo extremamente louvável. Que a Fernanda afine seu estilo de escrita e seja mais ousada em seus próximos livros. Pois este, obviamente, será só o primeiro de muitos. Assim esperamos.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Falta de vergonha na cara

Enquanto alguns universitários fazem trabalhos extremamente inteligentes – como os autores do vídeo do Super Mário, por exemplo – e divulgam na Internet, outros fazem questão de mostrar seu total apego à idiotice. No vídeo abaixo, que já tem quase meio milhão de acessos no YouTube desde que foi postado (em maio de 2010), estudantes do Cefet-MG mostram o quão bons são na arte de... (pasme) colar.

Sem falso moralismo, a cola é um recurso uma artimanha usada por muitos alunos. Apesar de reprovável, é até certo ponto justificável – o camarada trabalha de dia e não teve tempo de estudar; não se interessa por aquela disciplina e preferiu se dedicar a outra, e por aí vai. Mas daí a se orgulhar de colar em uma prova a ponto de filmar tudo e colocar no YouTube já é demais!

Só gostaria de saber qual a posição que essas figuras ocupam hoje no mercado...

domingo, 11 de dezembro de 2011

Impressões acadêmicas sobre São Paulo

1. A Praça General Osório do Rio é bem mais bonita que a de São Paulo.
2. O Metrô de São Paulo é bem mais inteligente que o do Rio.
3. Não, eu não vou pagar R$15 numa dose de rum (desculpa, sou pão-duro prefiro lugares mais baratos).
4. “Véi, de boa” = “Brother, na moral”
5. Ao contrário do que muitos dizem, o atendimento em bares/boates/restaurantes em São Paulo não é tão melhor do que o praticado no Rio não...
6. As boates de São Paulo são um erro (desculpa, sou bairrista exigente)
7. Os museus de São Paulo são simplesmente sensacionais – em especial o da Língua Portuguesa (se bem que a exposição do Sigmar Polke no Masp está igualmente imperdível).
8. Ficar preso num engarrafamento é quase uma atividade turística.
9. Pegar uma baita de uma chuva no meio da Av. Paulista não e uma atividade turística muito agradável (sério, não recomendo).
10. Viajar é bom, mas voltar para casa é bem melhor igualmente bom (tá, sou bairrista, e daí?).

Acadêmicos do Super Mário

Eu costumo criticar seriamente esse pessoal que não leva a vida acadêmica a sério e faz trabalhos na base da sacanagem – vide esse post. Por outro lado, também faço questão de elogiar publicamente o que vem sendo feito na universidade e que vale a pena parar por uns instantes para observar.

É o caso deste vídeo, produzido por alunos da faculdade de cinema da Universidade Federal de Pernambuco. Nele é feita uma análise da trilha sonora do Super Mário World. Além de ser muito bem feito, emociona os admiradores deste game. Parabéns aos envolvidos!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Um murro na boca do estômago

Fiquei um tempo sem postar nada por aqui – sabe como é, né?, a correria do dia a dia, a vontade de relaxar nos fins de semana, a dedicação ao meu próximo livro (isso mesmo, estou escrevendo mais um!), tudo isso somado acabou me afastando um pouco do blog. Mas ontem surgiu algo que me fez separar um tempinho para sentar na frente do computador e escrever.

Estava eu num bar com um coleguinha falando amenidades. Fechamento de jornal, cinema, furos, TV, literatura e... Espera aí! Você não conhece João Gilberto Noll?!

Não, ele não conhecia João Gilberto Noll. Como muita gente infelizmente não conhece. Como eu mesmo não conhecia até meados de 2009.

Entrei em contato com a obra do Noll no Mestrado. Eu fazia uma disciplina sobre alegorias, melancolia e abjeção. No final do semestre eu teria que fazer uma monografia sobre algum romance que pudesse aplicar um desses conceitos. Ainda meio perdido, pedi ajuda a um professor amigo meu e ele me sugeriu pegar algum romance do Noll. Fiquei com medo de escolher um autor cuja obra eu ainda não conhecia para analisar um livro dele isoladamente. Fiz meu trabalho final sobre o Os Deuses Subterrâneos, do Cristovam Buarque, que acabou virando um capítulo do meu livro. E acabei adiando a minha primeira vez com o Noll.

No semestre seguinte eu não tive escapatória. Fazendo uma disciplina chamada Ficções do Desassossego não tive como adiar mais meu encontro com o Noll: a professora pediu logo nas primeiras semanas que lêssemos um livro dele para a semana seguinte. Daí conheci Lorde.

O livro já é meio chocante pela própria capa. Não se sabe se é um ombro masculino ou um homem de quatro. O texto é bastante desarrumado: há uma pontuação própria, um fluxo de pensamento único que segue da primeira à última página. Lorde conta a história de um escritor latino-americano perdido em Londres. A dúvida permeia toda a narrativa. O trajeto é o fim em si. Um personagem errante que perturba o leitor com frases e imagens fortes a todo o momento. Gostei.

Meses depois, ganhei do meu irmão outro livro do Noll que me fez ficar apaixonado por este escritor que eu infelizmente conheço pouco até hoje. Trata-se de A fúria do corpo.

O livro é de 1981 e mostra toda a coragem e ousadia de um escritor que não teve medo de, naquela época, mostrar todo o potencial da imundice humana. Caralhos, bocetas, lixo, drogas, porra, merda, putas, bixas. Tudo isso envolto na atmosfera sombria de uma Copacabana que deixava de ser a princesinha para se tornar a puta.

Um personagem sem nome (“o meu nome não. Vivo nas ruas ode um tempo onde dar o nome é fornecer suspeita”: começa assim mesmo o romance, sem letra maiúscula na inicial) e uma mulher que atende pela alcunha de Afrodite. Ele: sem teto, sem comida, sem rumo. Ela: garota de programa. Os dois: apaixonados.


 
Como é comum na obra do Noll, o texto é todo não-linear, com uma pontuação peculiar, parágrafos que se estendem por páginas e páginas, nada de muita novidade em relação ao anterior. O que chama a atenção é a violência com que as palavras atingem o leitor. Parece que a ferocidade dos personagens atinge a todos indiscriminadamente. São frases fortes, não raro com um cunho político bastante contundente. “ Sabe que nós dois não comemos há dois dias e meio e que assim mesmo há um Governo sobre nossas cabeças?”, diz o personagem-narrador para Afrodite em um determinado momento. “Por todos os cantos das ruas homens e mulheres mijam sem se preocupar com esconder cacetas e xotas. Enfim, é Carnaval. O Rio mija o que a Brahma supre enquanto vem aí a banda da Miguel Lemos”, descreve, em outro contexto.

Há quem possa perguntar porque ler um livro tão contundente com tamanha agressividade. Respondo: todo mundo precisa de um murro no estômago vez ou outra para se sentir humano. E encerro com mais uma passagem deste romance:

“E se morto reconheço a exatidão de tudo, não é preciso pranto sobre a desintegração da carne. Sou morto sim. Mas vivo ainda, como a fruta que se transforma num viveiro de bichinhos e vai expelindo aí o derradeiro furor da vida na sua carne mortuária.”

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Desfile em carro aberto

A delegação brasileira no Parapan conquistou o bicampeonato no quadro geral de medalhas este ano. Só os atletas da Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andef), conquistaram 14 em Guadalajara.

No halterofilismo, Alexandre Gouveia levantou 132kg, garantindo medalha de bronze na categoria entre 48 e 56kg | Foto: Divulgação
Para comemorar, os atletas da Andef vão percorrer as ruas de Niterói no caminhão aberto do Corpo de Bombeiros na próxima quinta-feira (1º/12). A saída será da sede da entidade, no Rio do Ouro, às 14h. O trajeto será feito pelas principais ruas da cidade até a chegada à Câmara Municipal da cidade, na Avenida Ernani do Amaral Peixoto.

Quem é de Niterói e/ou estiver de bobeira, vale dar um pulo lá para homenagear nossos atletas! Até porque, eles foram bem melhores que a outra delegação brasileira no Pan, né...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Livros independentes

Gosto muito de produção cultural feita de forma independente. Aquela galera que se vira pra publicar seu próprio livro, pra gravar sua música, fazer seu curta-metragem etc. Estes sempre podem contar comigo pra dar um apoio que, da forma que puder, vou tentar ajudar.

Gosto muito também de eventos que incentivam este tipo de produção cultural. Festival de cinema, de música, feira literária e tudo o mais. Novamente, sempre vou ajudar a divulgar os que me pedirem ajuda.

Pois bem, para cumprir minha recém-formulada promessa, vou falar sobre a 11ª edição Primavera dos Livros, que começou nesta quinta e vai até domingo (27) no Museu da República, no Catete.

Foto: Divulgação.
A Primavera dos Livros é o maior encontro de editoras independentes do país. Nele, serão realizadas várias atividades, como debates e lançamentos de livros. A escritora Heloísa Buarque de Hollanda será a homenageada desta edição.

A programação completa, você pode ver aqui. Mas gostaria de destacar algumas atividades que chamaram mais a minha atenção.

Nesta sexta (25),  às 13h, o coleguinha Osvaldo Maneschy lança o livro Leonel Brizola - a legalidade e outros pensamentos conclusivos, produzido sob sua organização e publicado pela editora Nitpress. Maneschy é jornalista e, atualmente, ocupa a Secretaria Municipal de Trabalho em Niterói. Tive oportunidade de conversar algumas vezes e, em todas as nossas conversas ele mostrou ser uma pessoa extremamente inteligente, o que torna seu livro é uma promessa de boa leitura.

No sábado (26), o cantor e compositor Martinho da Vila participa de uma mesa redonda, às 18h, com o título “Afrodescendências: nossas heranças”. Acredito que este será um dos pontos altos do evento, assim como a homenagem à Heloísa Buarque de Hollanda, que acontece um pouco depois, às 19h30. Também no sábado, o coleguinha Luiz Antônio Mello, da Coluna do LAM, também faz seu lançamento. O Manual de sobrevivência na selva do jornalismo (Nitpress), será lançado às 11h.

Trata-se de um evento gratuito, onde muitas trocas produtivas poderão ser realizadas. Este promete ser um bom espaço para trocar ideias e conhecer bons autores que estão fora das estantes das mega stores.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Os caracteres da velhice

Aristóteles descreve, no segundo livro da Retórica, as características dos idosos. São “desconfiados, devido à sua experiência”; “amam a vida, sobretudo nos seus últimos dias, porque o desejo busca o que lhes falta e o que lhe faz falta é justamente o que mais se deseja”; “são pessimistas”; “em tudo vêem um mal que os ameaça”...

Chico Buarque parece ter lido com bastante atenção a Retórica de Aristóteles, já que é basicamente este o clima do seu romance Leite Derramado.

Lendo este livro – que eu ganhei no início do ano, mas só tive tempo de pegar para ler agora – eu consegui entender porque ele foi tão premiado. Não é para menos: o livro é sensacional, tanto na forma em que ele se apresenta quanto no conteúdo apresentado.

Leite Derramado presenteia o leitor com a história de um homem de 100 anos, no leito de um hospital, narrando suas memórias. Em alguns momentos, quem anota o que o velho Eulálio está dizendo é uma enfermeira. Em outros, é a filha. O interlocutor muda de figura o tempo todo e, constantemente, o narrador se dirige a este interlocutor: “Bom dia, flor do dia, mas deve haver modos menos agourentos de se despertar que com uma filha choramingando à cabeceira”, diz no início de um capítulo. “Lá vem você com a seringa, é melhor dormir, tome meu braço”, diz, encerrando outro.

O mais interessante é a intensidade com que o autor, que tem 67 anos, imerge na mentalidade de um homem de 100 anos e pinta toda a história com as cores de uma pessoa com a idade já bem mais avançada. O narrador confunde personagens em um momento; em outros, diz que vai chamar os próprios pais, que já estão falecidos; conta a mesma história mais de uma vez em um curto período de tempo.

Em suma, é um livro de leitura rápida, mas que requer bastante atenção – principalmente ao nome dos personagens, pois o leitor mais distraído pode acabar cometendo confusões. Sua linguagem é simples e direta, mas a narrativa, até por se tratar de um livro de memórias, é toda em tempo psicológico. Não há respeito a uma cronologia muito estrita. Destaque para o modo como o Rio de Janeiro é descrito nas entrelinhas e para o fato de que tudo que é mais precioso para este narrador se despede aos poucos dele com o passar dos anos. Uma excelente reflexão sobre o fim e os fins da vida.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Parece sacanagem

O post de hoje é basicamente sobre o vídeo do Lobão, em que ele fala sobre a pendenga com o festival Lollapalooza. Gostaria de fazer algumas anotações, não só sobre este episódio, mas sobre a situação da música brasileira frente a estes festivais.

Segundo o Lobão fala no vídeo, ele teria sido convidado para se apresentar no festival, mas recusou o convite porque os organizadores queriam que os artistas brasileiros tocassem das 10h às 15h, enquanto os estrangeiros tocariam após este horário. Após o músico colocar a boca no trombone denunciando a atitude do festival, os organizadores teriam mudado o critério de organização do line up, desmentindo o Lobão.

A mim, não interessa quem está certo e qual é a versão verdadeira desta história toda. Interessa o seguinte: não dá mais para artistas brasileiros ficarem sendo colocados em um segundo plano para agradar produtores de festivais internacionais. Já fiz um post falando sobre isso na ocasião do Rock in Rio e repito aqui o mesmo discurso.

Mesmo que o artista que venha a fechar a noite seja estrangeiro, por que colocar os brasileiros somente como bandas de abertura? Por que não colocar artistas brasileiros que têm anos de estrada e inúmeros hits para tocar mais tarde, em um horário que o festival esteja mais cheio?

Em 2010 eu fui ao Planeta Terra. Fui porque queria ver o show do Mika. Mas também queria ver o que as outras bandas iriam apresentar. Cheguei bem depois dos portões estarem abertos e fiquei bastante indignado quando constatei que algumas bandas brasileiras já tinham acabado de tocar quando eu consegui entrar. Resultado: perdi algumas apresentações brazucas, mas vi todas as internacionais.

Parece que é feito de sacanagem. E é.

Poderia ficar aqui citando inúmeros exemplos, mas é melhor deixar o vídeo falar por conta própria:

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Sobre festivais e indústria de cigarro

Há algum tempo venho pensando na proibição de indústrias de cigarros patrocinarem eventos culturais – principalmente festivais de música. Mas duas notícias que eu li nos últimos dias me motivaram a escrever este post.

A primeira fala sobre os rendimentos bilionários da indústria de cigarro no Brasil, que apresenta crescimento, apesar da redução no número de fumantes e das leis antifumo. A outra, diz respeito a uma possível alteração na legislação em vigor, permitindo que fabricantes de cigarro voltem a patrocinar eventos.

Como bem destaca a segunda matéria, os fabricantes de cigarros já foram responsáveis por grandes eventos no Brasil, como o Free Jazz Festival, o Hollywood Rock, o Carlton Dance, só para citar os festivais de música. Isso sem contar torneios esportivos, peças de teatro, dentre outros tipos de eventos.

Ok, também sou contrário ao patrocínio de eventos esportivos por parte de fabricantes de cigarro, afinal, esporte é saúde e o cigarro está no extremo oposto. Mas por que não permitir que tais empresas patrocinarem ou organizarem festivais de música?

Vimos, nos festivais mais recentes, bandas se estapeando em busca de espaço para tocar, produtores cometendo verdadeiras injustiças na montagem do set list, ingressos algumas vezes mais caros do que muitos fãs poderiam pagar. Por outro lado, vemos um setor industrial com um faturamento bastante elevado, mas impedido de investir em festivais de música em nome de um suposto combate ao tabagismo.

Deixando de lado os aspectos legais da MP que altera a legislação do tabaco, acho bem fraco este argumento de que um evento patrocinado por companhias de cigarro poderia servir como um incentivo ao hábito de fumar. Tudo bem que a propaganda seduz e pode incentivar o consumo. Que se proíba a propaganda então e deixem as empresas fazerem festivais!

Não consigo acreditar que uma pessoa vá começar a fumar só porque foi a um Hollywood Rock, por exemplo. Principalmente porque, caso a nova legislação entre em vigor, a marca do produto não ficará exposta, e sim o nome da empresa.

Já pensou um Philip Music Morris, com os maiores nomes da música nacional e internacional a um preço que você pode pagar? Sim, porque com o retorno institucional do evento, a empresa pode reduzir sua margem de lucro com o festival e ainda assim sair ganhando.

Mais do que a aprovação da MP – que também restringe ainda mais o fumo em locais públicos –, acho particularmente interessante que este debate tenha voltado à tona. Principalmente em um ano que teve Rock in Rio, SWU, Planeta Terra...


P.s.: Sou contrário à proibição da propaganda nos pontos de venda, outro ponto incluído na MP. Mas isso fica para outra discussão...

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Uma fofura só

Todo mundo sabe que eu não sou do tipo que adora criancinhas. Mas alguns filmes com crianças como protagonistas me tocaram o coração. Primeiro foi A culpa é do Fidel de Julie Gavras (2006), que tem a pequena Nina Kervel-Bey no papel principal. Mais recentemente tive contato com outro filme pelo qual fiquei logo apaixonado: O pequeno Nicolau (Laurent Tirard, 2009).

O filme mostra o pequeno Nicolau (Maxime Godart) tentando lutar contra a chegada de um irmãozinho mais novo, devido ao medo de ser preterido pela família. Com toda sutileza que o tema exige, o filme explora o universo infantil com grande propriedade e nos faz rir de uma forma honesta e despretensiosa: longe de qualquer pastelão e de piadas clichê.

O pequeno Nicolau explora um recurso cômico já bastante utilizado tanto na literatura quanto no cinema: o quiproquó. Mesmo assim, ele não perde em nada por isso.

Segundo a definição do dicionário, o quiproquó é um “erro que consiste em tomar uma coisa por outra”. E é exatamente esta a deixa para praticamente todas as cenas cômicas do filme: o desentendimento nos diálogos, gerando confusão entre os personagens.

No todo, o filme é muito bom, com fortes atuações, principalmente por parte das crianças. É uma boa pedida para reunir toda a família em torno de um pote de pipoca num domingo à tarde.

domingo, 13 de novembro de 2011

O lado ruim da expectativa

Desde que foi lançado, eu li diversas resenhas críticas a Cisne Negro (Darren Aronofsky, 2010), mas só agora consegui parar pra assistir ao filme. De fato, ele é muito bom, mas ficou aquém do palavrório.

O filme trata da perturbação psicológica da protagonista, a bailarina Nina (Natalie Prtoman), que está prestes a se tornar a solista principal do próximo espetáculo de sua companhia – O Lago dos Cisnes. Paralelamente a isso, Nina tem relações conturbadas com sua mãe, com outras bailarinas de sua companhia e com o próprio diretor, Thomas (Vincent Cassel).

Os distúrbios de Nina são tão intensos que chegam a confundir o espectador. Aquilo que se vê de fato aconteceu dentro da narrativa ou foi apenas mais um delírio da personagem? Demoramos alguns segundos para identificar.

Cisne Negro é certamente um filme que tem mérito. Mas eu teria gostado bem mais se tivesse ouvido falar bem menos dele entes de ter assistido.

Os comentários que ouvi/li foram os mais diversos, mas quase todos giravam em torno de um mesmo eixo. “O filme é extremamente perturbador”, era a opinião majoritária. De tanto isso se repetir, imaginei que iria me deparar com um novo Réquiem por um sonho - filme do mesmo diretor, lançado de 2000. Este sim é extremamente perturbador e agressivo – tanto que, apesar de ter entendido a proposta, não me agradou muito o resultado final. E por achar que Cisne Negro adotaria uma postura tão contundente quanto Réquiem por um sonho, adiei ao máximo meu encontro com Natalie Portman e seu balé.

Ao final do filme, eu já não sabia se ele de fato não era perturbador ou se eu criei uma expectativa demasiadamente grande com base no que eu ouvi/li sobre o filme. De qualquer forma, cada dia concordo mais com a frase do Daniel Galera: “São as expectativas que fodem tudo”. 

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Uma trilogia de quatro livros

Quando se pensa em uma trilogia, por analogia, tem-se a ideia de três obras que compõem um conjunto maior. Esta é a definição mais convencional de todas. Mas nada em Fernando Gabeira é muito convencional.

Todo mundo sabe que não é de hoje que eu sou fascinado pela produção intelectual do Gabeira. Discordo dos críticos, que encerram a Trilogia de Depoimentos do nosso mineiro (sim, Gabeira nasceu em Juiz de Fora) em “Entradas e Bandeiras”. Só porque, diferente dos anteriores, “Hóspede da Utopia” é uma obra de ficção ele deixa de entrar na série? Não, eu não consigo concordar com isso. Mas vamos por partes.

Quando Gabeira volta do exílio, ele decide contar suas impressões sobre os três momentos que passou durante o período da Ditadura Militar. É aí que surge “O que é isso, companheiro?”, livro que inspirou o filme de Bruno Barreto. Nele, o autor conta seu primeiro desafio: como enfrentar o regime militar.


Um golpe militar é um pouco como uma grande e emocionante peça de teatro. Quando termina, você sente um grande impulso para estar junto das pessoas de quem gosta, ou mesmo telefonar para saber se estão bem.

O autor descreve – de forma bastante crítica, por sinal – o funcionamento e a organização dos grupos de esquerda que viviam na clandestinidade, o comportamento dos jovens marxistas, até chegar ao famoso sequestro do embaixador Charles Burke Elbrick. Daí até a cadeia. Da cadeia até o exílio – tema do segundo livro da série.

“O crepúsculo do macho” trata do período em que Gabeira foi parar no exílio. Como ficar quase 10 anos longe de seu país, sem informações sobre seus amigos e familiares? Como se integrar forçadamente à uma nova cultura, sem saber por quanto tempo terá que fazer parte daquela sociedade?

Ninguém será enganado: isto é uma viagem. Lembra-se dos filmes de bangue-bangue nos cinemas empoeirados do subúrbio? Lembra-se do momento em que a diligência ia ser atacada pelos índios? Era sempre num desfiladeiro. Cada vez que os cavalos pisavam a entrada do desfiladeiro, nossa angustia era precipitada pelos efeitos sonoros, anunciando que, a qualquer instante, a lona do carro seria crivada de flexas. Pois bem: é essa a angústia que sinto, quando entro na plataforma da estação central de Estocolmo.

Esta sequência de imagens é nada menos do que o primeiro parágrafo do livro. Pelo golpe inicial já dá para ter uma noção do tom angustiante que tomará conta de toda a narrativa. Mas, paralelamente a toda esta angústia, há contos e casos curiosos. Como na entrevista concedida por Gabeira.

O autor trabalhava como condutor de trem em Estocolmo. No réveillon, um grupo de jornalistas quis fazer uma matéria sobre pessoas que trabalham durante a madrugada e, consequentemente, passariam a virada do ano no trabalho – como condutores de trem e jornalistas, conforme exemplifica o autor, ironizando de suas duas ocupações. Chegando lá, os repórteres deram de cara não só com um trabalhador-da-madrugada, mas com um intelectual exilado político de um país de terceiro mundo que se tornara, por necessidade, um trabalhador-da-madrugada. E a entrevista se prolonga bem mais do que o previsto.

O tempo passa, o tempo voa, e a poupança Bamerindus continua numa boa e Gabeira ganha o direito de voltar ao Brasil, em 1979. Como voltar ao seu país após ficar quase 10 anos longe dele, sem informações sobre seus amigos e familiares? Quais as impressões sobre o novo país? Seria o mesmo que ele havia deixado para trás? São estas e outras perguntas que ele tenta responder em “Entradas e Bandeiras”.

“Entradas e Bandeiras”, na minha mais humilde opinião, é o melhor livro da série. Gabeira faz uma análise extremamente madura e bastante peculiar da sociedade brasileira no início dos anos 1980. Observa a ascensão do movimento ecológico, do movimento gay, as patrulhas ideológicas, os desmandos da esquerda. Se eu tivesse que escolher um único parágrafo para exemplificar toda a obra, seria o seguinte:

Culturas independentes como a dos negros exigiam um direito de existência. Os homossexuais, mantidos sob o signo do preconceito, começavam a se organizar em quase toda a parte. Os loucos, os velhos, as crianças, em breve iam abrir os olhos para o processo de opressão a que estavam submetidos. A sorte da nossa época dependia do proletariado. Seria ele capaz de captar essas novas tendências, ou embarcaria pura e simplesmente nas águas da repressão silenciosa e disfarçada contra milhões de seres humanos?

E com este livro, Gabeira encerra, para muitos críticos, sua trilogia de depoimentos. Mas discordo frontalmente desta marcação. Acredito que o quarto livro do autor se insere no mesmo campo dos demais. Apesar de ser uma obra de ficção.

É o “Hóspede da Utopia” que encerra os relatos de Gabeira sobre a ditadura. Nele, um casal errante busca da felicidade em sua forma mais plena. Uma história de amor, que tenta responder à pergunta formulada por Gabeira, assim que ele volta do exílio:

“Os políticos podem dar o balanço do número de mortos, do número de cassados, refugiados, banidos. Mas quem dará o balanço do medo dos projetos humanos que se frustraram, dos abraços que se negaram, dos beijos paralisados, tudo por medo? Quem dará o balanço do medo que nós tivemos?”

Desta forma, venho por meio deste post tentar corrigir um erro histórico – a idéia de que a Trilogia Série de Depoimentos do Gabeira tem apenas três livros. Há um quarto que, por trás de personagens fictícios, aparece um Fernando, que vai se revelando pouco a pouco nas entrelinhas de uma primorosa narrativa.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Um livro de ouro

Todo mundo sabe que eu admiro – e muito – o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Em 2006 participei de sua campanha à Presidência, mas só mais tarde tomei conhecimento de sua obra literária. E me fascinei logo de cara. Tanto que um dos capítulos do meu livro é exclusivamente sobre “Os Deuses Subterrâneos”. Agora venho falar sobre outro livro do Cristovam – este, de não-ficção – que também merece destaque: “A cortina de ouro”.



Cristovam nos presenteia com um livro simples e direto sobre os “sustos” do final do século XX e os desafios para o homem dos anos 2000. Publicado em 1995, a obra é basicamente a transcrição de uma conferência realizada pelo autor com o título de “Os sustos do final do século”.

Em suma, o raciocínio que se desenvolve é o seguinte: a partir das projeções feitas por artistas e intelectuais do século XIX de como seria o século XXI, Cristovam faz análises sobre o que de fato foi realizado e em que aspectos a sociedade ficou aquém da utopia criada por tais pensadores. A conclusão a que se chega é que, do ponto de vista técnico, a sociedade avançou enormemente – muito mais do que imaginado. Em contrapartida, a realidade social que se apresenta é ais devastadora do que as mais pessimistas projeções. Ou, nas palavras do autor, “o avanço técnico não serviu para construir uma sociedade utópica”.

Um belo exemplo usado pelo autor é o avanço da medicina. Há alguns séculos, não havia cura para grande parte das doenças. Tanto os ricos quanto os pobres pereciam dos mesmos males. Hoje, já há vacinas e tratamentos dos mais sofisticados. Mas seu uso, em muitos dos casos, é restrito apenas aos ricos – enquanto pobres ainda morrem sem tratamento.

Ainda no que diz respeito aos avanços técnicos no campo da medicina, Cristovam cita o transplante como outro bom exemplo para esta desigualdade entre avanço técnico e desenvolvimento social:

Ninguém acreditava, há cem anos, que antes do final do século XX o transplante seria uma prática comum na medicina. Muito menos que a desigualdade estaria tão acirrada, que crianças seriam traficadas, mortas, para que seus órgãos fossem transferidos a outras crianças.

O livro é de uma abordagem impressionante para um tema ao mesmo tempo tão delicado e relevante para todos aqueles que querem lançar um olhar mais crítico sobre o século XXI e seus desafios. A leitura é imprescindível. E não adianta alegar que está sem tempo para ler: são 120 páginas, divididas em capítulos curtos, dá para ler rapidinho.

Por fim, gostaria de incluir neste post mais uma passagem do livro:

Para assombro de muitos observadores do mundo das ideias e das ideias do mundo de hoje, Aristóteles ou Platão parecem explicar melhor com seus pensamentos simples a simplicidade da sociedade grega de sua época do que os sofisticados acadêmicos e cientistas sociais de hoje são capazes de explicar as sofisticadas economias e sociedades contemporâneas deste final do século. E todos os homens se assustam com esta constatação.

sábado, 5 de novembro de 2011

Frases fortes, narrativa entediante

A minha mais recente leitura foi um livro que estava na minha lista (sim, eu tenho uma lista de "próximas leituras") há alguns anos (pasme), mas só agora tive saco tempo de pegar para ler. E até que gostei. Em partes. Trata-se do Este lado do paraíso, do F. Scott Fitzgerald (lê-se “Fitzgérald”).

O livro, publicado em 1920, quando o autor tinha 24 anos, conta a história de Amory Blaine, “o egocêntrico romântico”, desde quando ele era uma criança mimada até a fase adulta, cheia de responsabilidades e cobranças. O personagem, como o próprio Fitzgerald admite, deixa transparecer muito sobre o autor. “Não gostaria de falar de mim, pois admito que já o fiz bastante neste livro”, diz no prefácio “Uma justificativa do autor”.


No todo, pode-se dizer que o romance é legal. Entre drinks e festas de universidade, os personagens nos presenteiam com frases fortes e pensamentos bastante marcantes. Aliás, este é um dos pontos altos do livro, que fazem compensar a narrativa lenta adotada pelo autor. Mas entre um tédio e outro, somos surpreendidos com algo do tipo:

“Se alguém não puder ser um grande artista ou um grande soldado, o melhor que lhe resta é ser um grande criminoso.”

Ou ainda:

“Não é que eu me incomode com esse brilhante sistema de castas”, confessou Amory. “Gsto de saber que os primeiros lugares cabem aos sujeitos alinhados, mas puxa vida, Kerry, tenho de ser um deles!”

Amory é um personagem que alterna entre a frivolidade e um profundo conhecimento artístico/literário. Em diversas passagens ele discute o valor de uma obra de arte com algum de seus amigos. Em outras, ele revela um desejo de pertencer às classes mais elevadas da hierarquia social de Princeton. No todo, acaba sendo um personagem bastante interessante.

As últimas passagens do livro fazem valer toda a leitura. São nas últimas páginas em que aparece a definição de Amory bastante peculiar para “classe média”:

“Estes homens de mentalidade mofada, que apenas alisaram os bancos escolares, que pensam que pensam cada questão que surge... bem, gente assim encontra-se em cada esquina. Num momento eles se manifestam sobre ‘a brutalidade e desumanidade desses prussianos’ e, logo em seguida, declaram que ‘deveríamos exterminar todo o povo alemão’. Estão sempre acreditando que ‘a situação, agra, não está nada bem’, mas eles ‘não têm qualquer fé nesses idealistas’. Num minuto afirmam que Wilson ‘não passa de um sonhador, não é nada prático’, e daí a um ano aderem a ele por ter tornado seus sonhos realidades. Não possuem ideias claras e lógicas sobre um único assunto, exceto uma posição retrógrada e insensível a qualquer mudança. Julgam que as pessoas sem instrução não deveriam ser bem pagas, mas não percebem que se não pagarem bons salários a essa gente seus filhos também não terão uma boa educação, o que nos leva a um círculo vicioso Essa é a famosa classe média.”

No todo, é uma leitura que oscila entre diálogos muito interessantes e trechos bastante arrastadas. Vale a leitura, pois é um retrato não só de um personagem, mas de toda uma geração.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ainda sobre a USP

Todo mundo sabe que gosto muito de acompanhar o movimento estudantil, mesmo não sendo mais estudante há algum tempo. Particularmente, esse caso da USP me deixou bastante intrigado. (Se você não sabe do que se trata, clique aqui). De tudo o que eu vi/li/ouvi, não consegui concordar com absolutamente nada do que está acontecendo na universidade. De qualquer forma, gostaria de fazer algumas perguntas para eu pelo menos tentar entender melhor a questão - ou até mesmo mudar minha opinião. Lá vão:

- Porque o DCE é contra a presença da polícia no campus? Foi verificado algum tipo de abuso por parte dos policiais contra estudantes, servidores ou professores? Se sim, foi feita alguma denúncia formal à corregedoria da PM, ou à Reitoria, ou algum outro órgão?

- O que o DCE achou errada a prisão de três estudantes por porte de maconha no campus? Se sim, qual deveria ter sido a medida adotada pelos policiais?

- O DCE achou correta a atitude dos estudantes que jogaram um cavalete de madeira na cabeça dos policiais? Achou correta a atitude do estudante que subiu na viatura? Se não, pretende tomar alguma medida – como uma moção de repúdio, por exemplo?

- Os estudantes envolvidos na manifestação acreditam estar cometendo algum crime? Se não, porque só circulam pelo local com o rosto tapado com panos?

Por hora, permaneço achando que a USP deveria seguir o exemplo da UFF. Aqui uma demanda legítima – impedir a construção da Via 100 e Via Orla – uniu professores e estudantes que muitas vezes nem participam das manifestações e, quando a polícia chegou, houve negociação, o prédio foi esvaziado e a reitoria recebeu uma comissão para negociar as pautas. Não sei não, mas eu acho que assim é que se faz...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Dilmetaleira

Montagens de vídeo tem aos montes no YouTube. Mas essa é uma das melhores que eu vi recentemente. Nela, a presidenta Dilma Rousseff aparece em sua versão... digamos... metaleira, ao som de System of a Down. Vale o confere!

Trabalho acadêmico

Nunca é demais lembrar o peso e o significado destes problemas, uma vez que a complexidade dos estudos efetuados desafia a capacidade de equalização do sistema de formação de quadros que corresponde às necessidades. Percebemos, cada vez mais, que o aumento do diálogo entre os diferentes setores produtivos oferece uma interessante oportunidade para verificação das novas proposições. Por conseguinte, o acompanhamento das preferências de consumo garante a contribuição de um grupo importante na determinação dos modos de operação convencionais. Neste sentido, o novo modelo estrutural aqui preconizado acarreta um processo de reformulação e modernização das posturas dos órgãos dirigentes com relação às suas atribuições.

A nível organizacional, o início da atividade geral de formação de atitudes estimula a padronização do processo de comunicação como um todo. É claro que o comprometimento entre as equipes aponta para a melhoria do orçamento setorial. No mundo atual, a expansão dos mercados mundiais promove a alavancagem dos métodos utilizados na avaliação de resultados. O incentivo ao avanço tecnológico, assim como a constante divulgação das informações é uma das consequências dos conhecimentos estratégicos para atingir a excelência.

Acima de tudo, é fundamental ressaltar que a crescente influência da mídia afeta positivamente a correta previsão das diretrizes de desenvolvimento para o futuro. Assim mesmo, a valorização de fatores subjetivos auxilia a preparação e a composição do levantamento das variáveis envolvidas. O cuidado em identificar pontos críticos no desafiador cenário globalizado talvez venha a ressaltar a relatividade dos paradigmas corporativos. Todas estas questões, devidamente ponderadas, levantam dúvidas sobre se a mobilidade dos capitais internacionais representa uma abertura para a melhoria da gestão inovadora da qual fazemos parte.


Gostou? Foi feito aqui!


P.s.: Pelamordedeus, heim, não vá usar isso na faculdade e dizer que fui eu que ensinei! Esse post foi apenas uma brincadeirinha, pra descontrair o clima...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Louco por ela

Acho que estou ficando bom nessa história de escrever sobre um livro que ainda nem foi lançado. É isso que dá ter diferentes amigos que se interessam pelos meios literários. Mas não tem como esperar até o mês que vem para poder escrever sobre um livro que eu acompanhei bem de pertinho a construção. Trata-se do “Louca por você”, de autoria da minha amiga Fernanda Belém.



Eu posso falar mais sobre a autora do que sobre a obra em si, já que eu ainda não li o livro (calma, gente ele só sai em novembro!). Mas a autora eu conheço bem.

Flamenguista fanática, jornalista, blogueira, companhia inteligente para qualquer programa. E como todo escritor tem que ser, antes de mais nada, um bom leitor, Fernanda é uma das leitoras mais vorazes que eu conheço – chegando a uma média de 100 livros lidos por ano, o que eu nunca consegui entender como é que funciona. (Eu costumo ler uma média de 15-30 por ano, num bom ano.) Tudo isso sempre com um sorriso estampado no rosto (acho que nunca vi a Fernanda chateada, ou de cara amarrada, ou coisa do tipo).

Mas como o que interessa é a obra, vamos ter que recorrer novamente ao material de divulgação distribuído à imprensa:

“O que acontece quando um reencontro desperta um sentimento que você acreditava já ter esquecido? Renata achava que precisava apenas de um pouco de agito no namoro com Rodrigo. A rotina dos três anos de relacionamento havia acabado com todo tipo de frio na barriga e até mesmo com a paixão. Mas como agitar uma pessoa que parece não querer sair do lugar? Desesperada por mais emoções nos seus vinte e poucos anos, Renata decide mexer com o passado.

De repente, o simples envio de um convite de aniversário para o antigo namorado faz o mundo virar de cabeça para baixo. Renata encontra no ex a adrenalina que tanto sentia falta. O problema? Ele também era comprometido. Entre e-mails, amigas, brigas, confusões, encontros, desencontros, ciúmes e tentações, Renata tenta amadurecer e espera tomar a decisão certa.”

Quem quiser conversar com essa figura e conferir o “Louca por você”, Fernanda vai estar autografando o livro no dia 18 de novembro, a partir das 19h, na livraria Saraiva, no Plaza Shopping. E quem quiser perturbá-la no Twitter, ela responde pelo @nandabelem - pode perturbar que eu deixo.

sábado, 22 de outubro de 2011

De calouro a escritor

Eu frequentemente falo/escrevo sobre algum livro que eu li e gostaria de ressaltar algum ponto que achei relevante. Geralmente esse livro é de um escritor que eu não conheço pessoalmente e possivelmente nunca vou conhecer. Ou porque já morreu, ou porque é estrangeiro. O tema do post de hoje é o extremo oposto: vou falar de um livro que ainda nem foi lançado, de autoria de um escritor conhecido meu.

Trata-se do Projeto Labirintho, que o coleguinha Renan Barreto vai lançar no dia 18 de novembro, em Niterói (mais precisamente no Bistrô MAC, às 20h). Pouca gente sabe, mas o Renan foi meu calouro na Universidade Candido Mendes e dei trote nele (sim, eu fazia isso na faculdade, gente, eu já tive meus 19 anos). Hoje ele é blogueiro, profissional de marketing digital e já está no seu segundo livro.

Projeto gráfico da capa do livro do Renan | Divulgação

Como o livro ainda não foi lançado e, consequentemente, não pude ler e fazer minhas observações, vou reproduzir um trechinho do material de divulgação da obra.

“O livro conta a história de seis personagens de maneira não linear. São 14 capítulos com introduções que levam a interpretações que vão mudando a cada novo ‘episódio’. Mesmo não havendo linearidade extrema como nos livros tradicionais, ele possui uma história cujas lacunas vão sendo preenchidas até o último instante. Esses personagens são postos em situações complicadas numa prisão e, então, tentam fugir dela. Durante a jornada, eles se encontram, desencontram e vão conectando todos os pontos num clímax desesperador e, ao mesmo tempo, surpreendente.


Em Projeto Labirintho há uma gama de referências à cultura pop, que satirizam de certa forma, o que se vê no cenário atual da arte, principalmente cinematográfica. Isso porque o livro foi concebido primeiramente como um roteiro para cinema.”

Acho bem legal ver a galera da minha geração militando no meio literário – que costuma ser tão fechado para novos escritores. Espero ver ainda muitas figuras em quem dei trote me mandando material de divulgação do lançamento dos seus livros.

Quem quiser falar com o Renan sobre o lançamento, ele responde por @Renan_Barreto no Twitter. Só procurar por lá - ele é legal e responde todo mundo. E nos vemos no lançamento!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Além da superfície

Hoje eu tive o prazer de ver um dos comerciais mais bacanas dos últimos tempos. Uma empresa de cosméticos cobriu o Zombie Boy – modelo Ricky Genes, famoso por ter o corpo praticamente todo coberto de tatuagens que simulam o esqueleto humano – de uma maquiagem cor de pele. Aos pouquinhos ele vai passando o removedor pelo peito e pelo rosto até mostrar sua verdadeira identidade.

O que gostei é que mais uma vez a indústria da moda brinca com essa ideia de padronização do corpo – só a escolha do modelo já é, digamos, uma transgressão. Começar com um “como você julga um livro” o vídeo de uma campanha que se chama “vá além da cobertura” é algo que soa como um foda-se às aparências – “aprofunde-se no conhecimento do outro”, por assim dizer.

Gostei muito do resultado final. Além da mensagem, a montagem do vídeo é bem interessante e a escolha da música “There is hope", de Zoo Brazil com Rasmus Kellerman, foi muito bem sucedida. Vale o confere!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Capitães sim, com muito orgulho

ATENÇÃO: esse post é cheio de spoilers. Se você não leu o livro Capitães da Areia, de Jorge Amado, e/ou não viu o filme, não leia se não quiser saber partes da história. Estou aqui para contar a minha opinião sobre a adaptação cinematográfica e posso acabar estragando a brincadeira de um de vocês sem querer.

Advertência dada, vamos ao que interessa. Já falei duas vezes sobre esse livro do Jorjamado. Primeiro sobre o cunho político do romance. Segundo sobre o trailer. Agora vamos ao filme propriamente dito.

O filme é sensacional. A diretora Cecília Amado consegue resolver muito bem os vários obstáculos de uma adaptação cinematográfica e apresenta um trabalho final brilhante. O fato de só haver atores desconhecidos no elenco não deixa nada a desejar. A fotografia também é belíssima, tornando as ruas de Salvador um personagem a mais na história. Só observei um problema na adaptação: a diretora pega leve demais.

O filme é de uma leveza sem igual. (Algumas pessoas que saíram comigo do cinema acharam o filme meio lento; eu discordei.) A violência é atenuada, os conflitos são atenuados, a tristeza é atenuada, o ódio é atenuado, tudo é atenuado. Até demais.

Há quem diga: “nossa, mas no filme tem cenas bastante agressivas”. No livro essa agressividade é bem maior.

Pedro Bala (Jean Luis Amorim) – o líder dos Capitães – termina o filme como o herói, o grande líder, o bonzão. Mas não é bem assim. Em um determinado trecho do livro, ele estupra – isso mesmo: estupra – uma menina na praia. Mas ele não é de todo mau: sabendo que a garota era virgem, ele promete que fará apenas sexo anal, “preservando” a virgindade dela. Terminado o ato sexual forçado, Bala deixa a menina ir embora. A despedida dela?

"- Peste, fome e guerra te acompanha, desgraçado. Deus te castiga, desgraçado. Filho de uma mãe, desgraçado, desgraçado."

Mas ele se arrepende pela “pobre negrinha, uma criança também”. Só que nada disso aparece no filme. Só não sei se a diretora julgou esse episódio irrelevante para a trama ou se apenas se acovardou, com medo de que o filme gerasse polêmica e isso prejudicasse o desempenho comercial da obra.

O desfecho do filme é permeado por dois extremos. Se por um lado ela consegue narrar em alguns minutos o desfecho de cada um dos personagens, o destino de Sem-Pernas (Israel Gouvêa) – um dos Capitães, que tem esse nome por ser coxo – é atenuado. Sem-Pernas, que é um dos meninos que mais tem ódio no coração, foi torturado pela polícia enquanto ainda era bem pequeno. No livro, ele termina sendo perseguido pela polícia pelas ruas de Salvador.

"Muita gente o tinha odiado. E ele odiara a todos. Apanhara na polícia, um homem ria quando o surravam. Para ele é esse homem que corre em sua perseguição na figura dos guardas. Se o levarem, o homem rirá de novo. Não o levarão."

Sem-Pernas fica encurralado e se joga de um precipício. Suicídio. “Se arrebenta na montanha qual um trapezista de circo que não tivesse alcançado o outro trapézio”. Triste fim de um menino de rua coxo e faminto. No filme, apenas aparece o Professor (Robério Lima) e Zé Fuina (Felipe Duarte) especulando sobre o futuro do grupo e dizendo que Sem-Pernas possivelmente irá para o circo e será trapezista - em uma referência clara ao suicídio do personagem. Bem mais light, entretanto, que a versão original.

No todo, como eu disse inicialmente, o saldo do filme é bastante positivo. As cenas de capoeira são bem coreografadas e o roteiro não apresenta falhas. Motivo de orgulho para o cinema nacional.

Para quem se interessou, segue o trailer:



segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Capitães do Cinema

Há alguns dias falei do livro Capitães da Areia, do Jorjamado. Pois bem. Agora chegou o filme.

Eu sabia que o filme estava sendo produzido desde o meio do ano passado, mas não sabia previsão de lançamento. Sexta-feira, quando voltei do trabalho, vi um cartaz do filme. Fiquei todo animado, pois o livro é excelente e rende um bom roteiro cinematográfico. Daí chego em casa e vejo que o filme foi exibido na sexta à noite, no Festival do Rio. Ou seja: eu achando que o filme ainda iria entrar em cartaz e ele já teve até sua estreia...

Para quem se interessa pela história de Pedro Bala, Dora, Professor e o resto do grupo, segue o o trailer, que, por sinal, é bem atraente. Quando eu assistir, conto pra vocês o que achei da adaptação.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Bela homenagem

Depois que eu voltei do show do Stevie Wonder no Rock in Rio (um dos melhores shows, é bom que se diga), eu fiquei pensando em um post sobre o festival, mas queria dar uma abordagem que ainda não tivesse sido bem explorada, sabe como é, aquele ranço tino jornalístico de buscar algo diferente e coisa e tal... Daí eu recebo mais um release dela – sempre ela! - para fazer a alegria da moçada!

Foto: Divulgação


Não é que a Mulher Maçã resolveu fazer uma singela homenagem ao Stevie Wonder (???) segurando uma guitarra elétrica? Vamos ver o que dizia o release:

Mulher Maça promete em seu novo trabalho radicalizar geral para quem estava acostumado a ouvir maça cantando seus funks notará uma grande surpresa.em seu novo album gracy fará uma mixagem de funks com outras influências a cantora tem tido aulas de guitarra e promote um cover de seu grande idolo stevie wonder maça tem tentando junto com a produção do cantor marcar um encontro antes de seus shows no rock in rio pois nao teria conseguido ingresso vip para assistir a apresentação.”

Assim como no outro post, fiz questão de preservar a grafia original, que é um espetáculo extra. Achei bem bonito da parte da Mulher Maçã fazer uma homenagem ao músico que encerrou a noite do Rock in Rio que eu assisti. Por isso decidi compartilhar com vocês. Espero que tenham gostado!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Eles lá e a ralé aqui

Entrevistar o João Gordo ao vivo nunca deve muito fácil. Aquele frio na barriga, aquela expectativa de uma merda que ele possa falar, o medo daquela pergunta não ser bem interpretada... Nunca entrevistei o Gordo, mas imagino que seja assim.

Imagino também que tenha sido assim que a Érika Mader foi até o sofá onde ele estava sentado para pegar a opinião dele sobre o Rock in Rio após ele se apresentar com a banda Korzus no projeto Punk Metal All Stars. No palco Sunset, obviamente, porque o palco Mundo é só para as estrelas. Vejamos o que ele respondeu:



O vídeo fala por si próprio, não há muita necessidade de complementar o que ele disse. Só posso acrescentar que concordo em boa parte com o que o João Gordo declarou. Produção Mambembe? Claro que não, acho que o Gordo estava meio puto e exagerou nesse ponto. Se ele tivesse dito “seleção das bandas Mambembe”, aí sim. Por que uma banda chamada Glória, que tem uma repercussão nacional e internacional infinitamente menor que Sepultura tocou no palco principal e a banda do Igor Cavalera foi jogada pro palco secundário? Sepultura já tocou no palco principal em 2001, lembram? Por que não repetir a dose?

Mais adiante, quando o assunto é a reação positiva do público, o Gordo manda na lata: “o publico não é burro. Eles sabem quem são os caras verdadeiros e vão lá para agitar”. Sim. Tanto que os meninos do Glória foram vaiados e o pessoal do Sepultura extremamente aplaudido.

Só gostaria de entender qual a lógica desse raciocínio. Porque eu juro que não gostaria de concordar com o João Gordo quando ele diz que “promotor de festival grande é tudo um bando de imbecil”.

Literatura e família

Quando o release é ruim, eu venho e critico o assessor de imprensa. Mas quando é bem escrito e sobre um assunto interessante, me sinto na obrigação de publicar também.

Nesta quarta-feira (28), acontece na Biblioteca de Botafogo um debate sobre as relações entre literatura e família. Dentre os participantes, estão o escritor ganhador do prêmio Jabuti (o mais importante da nossa literatura) Cristovão Tezza, a escritora Heloisa Seixas e a crítica Cláudia Nina. Segundo a assessoria, a proposta é apresentar um quadro sobre a realidade das famílias que incorporam ao seu dia-a-dia o contato com os livros e a leitura, como uma forma de educar e aproximar.

Achei o tema bastante interessante, por que na minha família todo mundo tem um pouco de devorador de livros. A minha mãe que me deu a obra infantil completa de Monteiro Lobato quando eu era criança. Meus irmão viviam – e vivem até hoje – me dando livrinhos pra eu ler (hoje em dia eu posso tirar esse diminutivo, por motivos óbvios). Com meu pai eu lia a Turma da Mônica. E por aí vai.

Não sei se há uma relação direta entre o fato de eu ter passado boa parte da minha infância acompanhado de livros e o fato de hoje eu trabalhar com Comunicação e Literatura, mas certamente teve alguma influência. Então acho que vale a pena acompanhar um debate como este.

O evento começa às 19h30min e a entrada é gratuita. A biblioteca fica na Rua Farani, 53, em Botafogo.

domingo, 25 de setembro de 2011

Por um mundo mais 'pop'

Uma vez perguntaram pro Andy Warhol o que era ser pop. Daí ele respondeu: “ser pop é gostar das coisas”. Simples assim.

No documentário “Outros doces bárbaros”, alguém pergunta para o Gil: “Como é que você consegue gostar da Sandy?”. Ele cita a frase do Warhol e diz algo do tipo: “eu sou pop, eu aprendi a gostar das coisas”.

Cito esses dois episódios porque eu vejo um certo ódio entre pessoas que seguem tendências diferentes – e não necessariamente opostas. Para ser mais preciso, vejo um ódio muito grande entre pessoas que curtem estilos musicais diferentes. Para ser ainda mais preciso, vejo um ódio absurdo entre quem gosta de rock e quem gosta de qualquer outro estilo de música. E eu acho isso tudo uma grande babaquice.

No dia de metal do Rock in Rio, li uma matéria dizendo que tava rolando uma brincadeira com um casamento feito no estilo rock n roll. No final da cerimônia, o padre de mentirinha fala pros noivos se amarem “até que o pagode e o sertanejo os separe”. Grande babaquice.

Acho esse tipo de brincadeirinha extremamente imbecil, pois coloca pagode e sertanejo como algo tão ruim, que poderia ser comparável à própria morte. Nada mais condenável.

Fico bastante triste por ver essa postura por parte de alguns roqueiros. Se o rock nasceu para ser transgressor, para combater os preconceitos, para combater as injustiças, por que diabos fazer esse tipo de piadinha contra os artistas e os fãs do pagode e do sertanejo, que nada mais fazem além de curtir sua música preferida? Roqueiros que pensam – e agem – assim se igualam aos camaradas que criticavam ferozmente o rock. Se igualam a todos os instrumentos de censura e opressão que se opunham ao rock.

O pior é que a patrulha dos roqueiros xiitas não para por aí. Qualquer banda – mesmo de rock – que não se enquadre naquele estereótipo de música pesada, cheia de distorção, corre o risco de ser taxada de não-é-rock. Foi o que eu vi no show do Frejat na Exposição Agropecuária de Cordeiro (RJ) em 2008. O locutor da festa anunciou algo do tipo: “Agora com vocês um dos maiores nomes do rock nacional: Frejat”. A namorada de um amigo meu falou: “Ah, tá, Frejat nem é rock, quanto mais um dos maiores nomes”. Os dois formam um belo casal metaleiro.

Frejat pode até não ser um dos maiores nomes, mas reflitamos: por que não seria rock? Ele não teve uma banda que desafiou a sociedade do seu tempo e botou pra quebrar? Só porque hoje em dia as músicas dele são mais elaboradas, têm menos distorção e menos gritaria ele deixa de se filiar ao Partido do Rock Nacional? Na minha humilde opinião, nada disso faz sentido.

Sim, eu sou roqueiro e achei a frase do “padre” do Rock in Rio o exemplo perfeito para este post, porque pagode e sertanejo são dois dos poucos estilos de música que não me agradam em absolutamente nada. O resto todo me agrada. De Skid Row a Lady Gaga. De Megadeth a Maria Rita. Gosto de tudo porque aprendi a gostar das coisas. Sou pop. E quem dera mais gente fosse.


P.s.: Não, eu não gosto da Sandy. Tudo tem limite, né, gente...

sábado, 24 de setembro de 2011

Nova droga chamada Twitter

Eu geralmente não acho muita graça nesses vídeos de YouTube em que uma pessoa sai na rua perguntando a populares o que eles pensam sobre um determinado assunto, daí só vão pro ar as respostas equivocadas, que dá pra ver que o sujeito não entendeu a pergunta. Não gosto porque acho isso um exploração da ignorância do povo para rir dela, porque geralmente quem responde tudo errado é a população de baixa renda, que não teve muitas condições de estudar e conseguir entender e responder de forma coerente uma pergunta mais elaborada. Mas dessa vez tive que me render a esse tipo de “humor” (atenção às aspas).

Deixando a parte ideológica de lado, ri bastante com um vídeo desse formato que achei aleatoriamente no YouTube. Um rapaz travestido de repórter pergunta aos populares: “O que você faria se descobrisse que seu filho é um usuário de Twitter?”. As respostas são as melhores... Vale o play:



P.s.: Dependendo da @ do sujeito, dá pra tratar o Twitter como uma droga nefasta, todos concordam?

Afinal, o que eu preciso saber fazer?

Honestamente, já não sei mais quantas vezes eu vi alguém de Comunicação errando uma conta matemática elementar e usar como artifício: “ai, mas eu sou de Comunicação, não sei fazer conta, e nem preciso saber”. Sim, amigo, você precisa sim senhor saber fazer contas. Afinal, dizem que você terminou o Ensino Médio e passou no vestibular não é verdade?

Vejamos em outros cursos. Será que os estudantes de Engenharia escrevem tudo errado e dizem “ai, mas eu sou de Engenharia, não sei escrever direito, e nem preciso saber”? Vejamos.

Em uma pesquisa realizada pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), 87,5% dos alunos de Engenharia passaram num teste de português que consistia em um ditado de 30 palavras, sendo que o candidato poderia errar a grafia de até seis. Dentre os alunos de Comunicação – aqueles que, pela lógica, precisam saber escrever certinho, já que não precisam saber fazer contas – o resultado é medonho: 65,3% deles foram reprovados.

É vergonhoso ver que a maioria da galera que se forma em Comunicação não sabe escrever palavras como autorizar, desageitado ou anexo. É ainda menos vergonhoso do que ver que quase todo mundo que se forma em Direito perdeu a prova da OAB. Isso porque se o aluno não sabe as leis, as teorias do Direito etc., é porque não aprendeu na faculdade. Agora, se um sujeito não sabe ortografia, é porque não aprendeu na escola e, sinceramente, não deveria sequer entrar na universidade. Mas já que entrou, pelo menos esse erro – que vem lá de trás – deveria ter sido corrigido.

A faculdade de Jornalismo, especificamente, não deveria ter que perder tempo ensinando o aluno a escrever – o estudante tem que aprender isso no Ensino Médio. Na universidade ele deveria aprender técnicas de redação jornalística, redação empresarial, técnicas de reportagem – além de toda bagagem teórica, é claro; aqui estou falando só da parte prática. Mas em vez de avançar nesses disciplinas, não raro um professor tem que ficar voltando a ensinar coerência e coesão textual, conceitos trabalhados no Ensino Médio. E assim vamos formando jornalistas menos capacitados do que poderíamos. E em jornalismo, meus amigos, é igual na Medicina – um pequeno erro causado por desconhecimento da técnica pode destruir a vida de uma pessoa.


P.s.: Tem uma palavra escrita de forma errada nesse post. Quem achar ganha um doce.