quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Um livro de ouro

Todo mundo sabe que eu admiro – e muito – o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Em 2006 participei de sua campanha à Presidência, mas só mais tarde tomei conhecimento de sua obra literária. E me fascinei logo de cara. Tanto que um dos capítulos do meu livro é exclusivamente sobre “Os Deuses Subterrâneos”. Agora venho falar sobre outro livro do Cristovam – este, de não-ficção – que também merece destaque: “A cortina de ouro”.



Cristovam nos presenteia com um livro simples e direto sobre os “sustos” do final do século XX e os desafios para o homem dos anos 2000. Publicado em 1995, a obra é basicamente a transcrição de uma conferência realizada pelo autor com o título de “Os sustos do final do século”.

Em suma, o raciocínio que se desenvolve é o seguinte: a partir das projeções feitas por artistas e intelectuais do século XIX de como seria o século XXI, Cristovam faz análises sobre o que de fato foi realizado e em que aspectos a sociedade ficou aquém da utopia criada por tais pensadores. A conclusão a que se chega é que, do ponto de vista técnico, a sociedade avançou enormemente – muito mais do que imaginado. Em contrapartida, a realidade social que se apresenta é ais devastadora do que as mais pessimistas projeções. Ou, nas palavras do autor, “o avanço técnico não serviu para construir uma sociedade utópica”.

Um belo exemplo usado pelo autor é o avanço da medicina. Há alguns séculos, não havia cura para grande parte das doenças. Tanto os ricos quanto os pobres pereciam dos mesmos males. Hoje, já há vacinas e tratamentos dos mais sofisticados. Mas seu uso, em muitos dos casos, é restrito apenas aos ricos – enquanto pobres ainda morrem sem tratamento.

Ainda no que diz respeito aos avanços técnicos no campo da medicina, Cristovam cita o transplante como outro bom exemplo para esta desigualdade entre avanço técnico e desenvolvimento social:

Ninguém acreditava, há cem anos, que antes do final do século XX o transplante seria uma prática comum na medicina. Muito menos que a desigualdade estaria tão acirrada, que crianças seriam traficadas, mortas, para que seus órgãos fossem transferidos a outras crianças.

O livro é de uma abordagem impressionante para um tema ao mesmo tempo tão delicado e relevante para todos aqueles que querem lançar um olhar mais crítico sobre o século XXI e seus desafios. A leitura é imprescindível. E não adianta alegar que está sem tempo para ler: são 120 páginas, divididas em capítulos curtos, dá para ler rapidinho.

Por fim, gostaria de incluir neste post mais uma passagem do livro:

Para assombro de muitos observadores do mundo das ideias e das ideias do mundo de hoje, Aristóteles ou Platão parecem explicar melhor com seus pensamentos simples a simplicidade da sociedade grega de sua época do que os sofisticados acadêmicos e cientistas sociais de hoje são capazes de explicar as sofisticadas economias e sociedades contemporâneas deste final do século. E todos os homens se assustam com esta constatação.

2 comentários:

  1. Danilo, muito bacana seu post, e o tema do livro, se permite viajar um pouco, me trouxe a mesma sensação que tive quando assisti (há muitos anos) "Invasões Bárbaras", talvez por tambem fazer analogia à percepção equivocada de futuro, de evolução, só que em relação ao próprio ser humano...

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  2. O bom é que o livro tem uma linguagem bem compreensível, mesmo pra quem não está acostumado com linguajar acadêmico. Vale a leitura!

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